Com definitiva entrada dos computadores, no cotidiano das pessoas no início do século XXI, a maioria deu de ombros para a máquina de escrever sem dó nem piedade. Nem havia remorso em adaptar a destreza adquirida nos essenciais quanto disputados cursos de datilografia, onde se ficava de seis meses a um ano treinando em aulas nada emocionantes, com o objetivo de desenvolver as técnicas e o talento de 'bater' à máquina com todos os dedos.
A Royal, fabricada durante a II Guerra Mundial
No final do curso, o candidato içado a datilógrafo profissional, com direito a diploma e tudo, virava motivo de orgulho da família e promessa de desenvolvimento na trajetória profissional. Era uma conquista dependurar diploma de conclusão do curso de datilografia em lugar de destaque na sala ou escritório. Afinal, ele era a senha para abrir as portas do mercado de trabalho.
Mas os tempos mudaram. E se a profissão de datilógrafo foi sumariamente extinta, seu objetivo de trabalho, a máquina de escrever também. Neste ano, oficialmente, saiu da ativa para entrar para a história, com o fechamento da última fabricante de máquinas de escrever, a Godrej & Boyce Manufacturing Company, localizada na Índia, que encerrou suas atividades após mais de um século de dura resistência.
Mas será que os inconfundíveis ruídos dessa estranha máquina inventada no início do século XVIII, que ameaçava o império das letras cursivas preciosamente desenhadas à pena e luz de velas, estão definitivamente caminhando para o silêncio? E as notas de sino no fim do comprimento da folha, o tac-tac das teclas, o som de roldana dentada da alavanca ao lado direito, as fitas de metade preta e vermelha, o carretel em cilindro com extremidades giratórias, as réguas de suportes da folha, os necessários papéis carbonos? Será que agora só em peças de museus?
Nada disso. Pelo menos no que depender do jornalista Sílvio Carlos, colunista do Caderno de Esportes, o Jogada, do Jornal Diário do Nordeste. Aos 70 anos de idade, 50 de jornalismo, 26 só de Diário, Sílvio Carlos continua batendo suas crônicas à máquina de escrever, não tem cerimônia para desdenhar dos computadores e nem pensa em abandonar suas duas relíquias: uma Olivetti 256 e uma Remington portátil, esta última que o acompanha quando viaja.
Jornalista, Sílvio Carlos
Há, claro, o extremo oposto, gente que deu um "já vai tarde" em sua própria máquina de escrever, nem bem os computadores começaram a mostrar que vinham mesmo como divisor de águas, a exemplo do escritor cearense Nilton Maciel. Aos 66 anos, nosso autor nascido em Baturité e dedicado ao ofício da escrita desde os 15 anos, não guardou o apetrecho nem como recordação dos velhos tempos.
Outro remanesceste do ofício é Justino Madeiro do Nascimento. Com 40 anos de trajetória, o técnico trabalhou na filial da Olivetti, empresa italiana fabricante de máquinas de escrever, que se instalou na cidade por volta dos anos 1960. "Na época, eu trabalhava como contínuo na empresa, só depois é que fui para o setor de faturamento e venda de equipamentos. Fiquei 18 anos lá"
No final do curso, o candidato içado a datilógrafo profissional, com direito a diploma e tudo, virava motivo de orgulho da família e promessa de desenvolvimento na trajetória profissional. Era uma conquista dependurar diploma de conclusão do curso de datilografia em lugar de destaque na sala ou escritório. Afinal, ele era a senha para abrir as portas do mercado de trabalho.
Mas os tempos mudaram. E se a profissão de datilógrafo foi sumariamente extinta, seu objetivo de trabalho, a máquina de escrever também. Neste ano, oficialmente, saiu da ativa para entrar para a história, com o fechamento da última fabricante de máquinas de escrever, a Godrej & Boyce Manufacturing Company, localizada na Índia, que encerrou suas atividades após mais de um século de dura resistência.
Mas será que os inconfundíveis ruídos dessa estranha máquina inventada no início do século XVIII, que ameaçava o império das letras cursivas preciosamente desenhadas à pena e luz de velas, estão definitivamente caminhando para o silêncio? E as notas de sino no fim do comprimento da folha, o tac-tac das teclas, o som de roldana dentada da alavanca ao lado direito, as fitas de metade preta e vermelha, o carretel em cilindro com extremidades giratórias, as réguas de suportes da folha, os necessários papéis carbonos? Será que agora só em peças de museus?
Nada disso. Pelo menos no que depender do jornalista Sílvio Carlos, colunista do Caderno de Esportes, o Jogada, do Jornal Diário do Nordeste. Aos 70 anos de idade, 50 de jornalismo, 26 só de Diário, Sílvio Carlos continua batendo suas crônicas à máquina de escrever, não tem cerimônia para desdenhar dos computadores e nem pensa em abandonar suas duas relíquias: uma Olivetti 256 e uma Remington portátil, esta última que o acompanha quando viaja.
Jornalista, Sílvio Carlos
Há, claro, o extremo oposto, gente que deu um "já vai tarde" em sua própria máquina de escrever, nem bem os computadores começaram a mostrar que vinham mesmo como divisor de águas, a exemplo do escritor cearense Nilton Maciel. Aos 66 anos, nosso autor nascido em Baturité e dedicado ao ofício da escrita desde os 15 anos, não guardou o apetrecho nem como recordação dos velhos tempos.
Escritor Nilton Maciel
A convicção do escritor Nilton Maciel é tão grande, que ele se vale das estatísticas para provar o atraso de vida que era escrever em uma máquina que não tinha tela, nem corretor ortográfico, a impressão era imediata e o arquicontemporâneo CtrlC + CtrlV era feito, literalmente, na base do cortar pedacinhos de papel e colar tirinhas no original.
Aldenor de Sousa Lima
Há 49 anos no comércio de máquinas de escrever e calculadoras, Aldenor de Souza Lima é um dos remanescestes no ramo. Natural de Uruoca, cidade do interior cearense, ele começou cedo na profissão. Na juventude, entre um passeio no antigo Bondinho no Centro de Fortaleza e uma ida ao Parque da Criança para dar pipocas aos macacos (de acordo com suas recordações, havia uma espécie de zoológico no local tempos atrás), Aldenor dividia o tempo sonhando, consertando e limpando máquinas de escrever.
Justino conta que sua loja atende por mês um total de 20 máquinas, sendo boa parte delas calculadoras. "Faço disso aqui meu lazer, minhas filhas já estão formadas e a minha vida encaminhada. Acredito que há espaço para computadores e máquinas de escrever. Uma máquina é como um livro velho, sempre é possível tirar algum proveito. Ela sempre tem algo a nos oferecer, nada é descartável", conclui.
Fonte: Jornal Diário do Nordeste
Fonte: Jornal Diário do Nordeste
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