1. O MENSAGEIRO. Quando o comprei há vinte anos, por doze cruzeiros, estava com os sinais da ancianidade, um quarto de século. Não lhe conheço a marca, pois o tempo lhe destruiu o nome. Mesmo velho, não parou ainda, salvo uma vez, por culpa de minha mão pesada, deixando de usar a leveza necessária à idade do objeto. Ficou tombado no chão, três anos, tomando poeira e visitado pelos insetos. Depois, levei-o ao “médico”. Ali recebeu transplante de corda e retornou ao trabalho, nas batidas agradáveis, na cadência dos segundos contínuos, assinalando também as datas. Não me aborrece o seu tic-tac. O ruído só gera irritação no espírito quando a gente vai contra ele. Aceitando-o, porém, ouvindo-o, ele perde a força agressiva, tal como sucede quando se abraça o sofrimento. Obtém-se convivência suave, consegue-se harmonia.
Olho-o diariamente no rosto, indicando a passagem veloz e irreversível do tempo, lembrando-me os compromissos. Vez por outra me estimula com mensagem desta espécie: “Vá em frente, ajudando a comunidade, os irmãos carentes, dando-lhes amizade, afeto e compreensão. As boas obras conseguem crédito junto a Deus.”
Ontem, ele me falou mais alto, mais bonito. Porque me inspirou a transmitir o lindo recado de Madre Teresa de Calcutá: “A pior doença de hoje não é a lepra ou a tuberculose, mas o sentimento de ser indesejado abandonado e esquecido de todos. A grande desgraça é a falta de amor e caridade, a terrível indiferença para com o próximo vivendo à margem da estrada, assaltado pela exploração, pela corrupção, pela pobreza, pela doença.”
2. QUEM escreveu este livro pra você? Perguntou uma dama da sociedade.
- E quem o leu pra você? Indagou a escritora.
- E quem o leu pra você? Indagou a escritora.
Publicado em: 03 de setembro de 1983
Jornal O POVO
Itamar Espíndola
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