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sexta-feira, 1 de dezembro de 2017



Liberdade é pouco. O que desejo ainda não tem nome. — Sou pois um brinquedo a quem dão corda e que terminada esta não encontrará vida própria, mais profunda. Procurar tranquilamente admitir que talvez só a encontre se for buscá-la nas fontes pequenas. Ou senão morrerei de sede. Talvez não tenha sido feita para as águas puras e largas, mas para as pequenas e de fácil acesso. E talvez meu desejo de outra fonte, essa ânsia que me dá ao rosto um ar de quem caça para se alimentar, talvez essa ânsia seja uma ideia - e nada mais. Porém - os raros instantes que às vezes consigo de suficiência, de vida cega, de alegria tão intensa e tão serena como o canto de um órgão - esses instantes não provam que sou capaz de satisfazer minha busca e que esta é sede de todo o meu ser e não apenas uma ideia? Além do mais, a ideia é a verdade! grito-me. São raros os instantes.

Clarice Lispector, "Perto do Coração Selvagem".

3 comentários:

  1. Mais um texto que gostei de descobrir de Clarice! Nem sempre concordo com os seus pontos de vista... e às vezes o seu pessimismo excessivo... não me motiva a querer descobrir muito da sua obra...
    Mas deste texto... até que gostei! Beijinho
    Ana

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