A história do bairro mostra que a capacidade de luta é como se fosse algo já entranhado no DNA dessa gente. Os primeiros moradores chegaram em 1973. Segundo a coordenadora pedagógica e de projetos do Instituto Palmas, Neide Costa, a maioria das famílias era oriunda da faixa litorânea de Fortaleza - por exemplo, Beira Mar.
“Tiraram várias famílias e jogaram para cá. Sem nenhuma estrutura. Quando elas chegaram, só encontraram lama e mato”, diz. E também muita carnaubeira e palmeira, o que inspirou o batizado do conjunto. As famílias começaram a construir barracos em regime de mutirão. Muitos dos antigos pescadores tiveram que buscar o sustento no lixão do Jangurussu. “Para eles, foi um choque cultural muito difícil”, comenta Neide.
Dona Marinete lembra que, naquela época, era tudo muito difícil: não tinha água, energia, saneamento, infraestrutura. Ela guarda na memória a existência de apenas um ônibus para atender todos os moradores.
Com tantas dificuldades, os moradores se deram conta da necessidade de organização. “De 1979 para 1980, a gente começou a se organizar. As primeiras reuniões foram aqui na minha casa”, relembra. Na década de 1980, também chegaram os primeiros seminaristas ligados ao movimento chamado “Padres da Periferia”, inspirado nos ideais da Teologia da Libertação. O objetivo deles era contribuir na transformação social das comunidades carentes a partir da auto-organização. Um dos seminaristas era Joaquim Melo, hoje coordenador do Banco Palmas.
A primeira grande conquista dos moradores foi a energia elétrica. Antes, a iluminação das casas era feita por lamparinas. Depois, veio a luta pela água tratada. “A gente só conseguia água em carroça e era muito caro”, lembra Marinete. Por ironia, a tubulação que levava água do açude Gavião para Fortaleza passava pelo Conjunto Palmeiras. “Ameaçamos quebrar os canos e conseguimos a instalação da rede de água”, relembra Neide.
No início da década de 1990, foi realizado o seminário “Habitando o inabitável”, considerado por Joaquim Melo como “o primeiro grande pacto social para urbanizar o bairro, com saneamento, praça e vias. Tudo feito em mutirão comunitário”.
Depois, foi detectada a necessidade de promover a geração de renda no bairro. Em 20 de janeiro de 1998, surge o Banco Palmas, que, por meio do microcrédito e da criação de uma moeda própria - o palmas -, promoveu o desenvolvimento econômico do Conjunto Palmeiras. A experiência de banco comunitário, na época, era inovadora.
Não há dúvidas de que o bairro melhorou muito ao longo do tempo. Mas, hoje, dona Marinete está um tanto decepcionada e considera que o povo “está acomodado”. Mas ela tem um sonho. Ver o Conjunto Palmeiras emancipado como município. “Iria melhorar porque as verbas e os impostos ficariam aqui”, pondera. Pode até parecer algo improvável, mas quem ousaria duvidar da capacidade do Conjunto Palmeiras em construir essa história nos próximos 40 anos?
A força de uma comunidade com uma liderança honesta mostra claramente o resultado, sem corrupção mas, sim, com ações sociais organizadas pelo povo para o povo! Isso é um exemplo grandioso!
ResponderExcluirAbraço.