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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

As 10 pessoas que mudaram o mundo - E o que seria da humanidade sem elas


Olá visitantes, tudo bem? Hoje vai uma matéria bem bacana que a revista Galileu produziu.A revista reuniu a opinião de  historiadores, escritores, jornalistas, eleitores  e estes escolheram dez personalidades cuja ação ajudou a determinar a forma como a sociedade se comporta hoje. Iremos reproduzir essa reportagem em partes, pois é bem extensa. Esperamos que apreciem.


Da hora em que você acorda até o momento de voltar para a cama, seu cotidiano se compõe de uma série de atitudes e comportamentos que parecem naturais. Pois não são. O que você é no seu dia a dia é fruto de uma série de aprendizados sociais que moldaram a evolução humana desde que nosso primeiro antepassado resolveu descer da segurança de uma árvore e se arriscar na savana africana. Muito do que somos foi moldado por outros seres humanos ao longo da História.

A lista, claro, será considerada incompleta por muita gente. E é mesmo difícil satisfazer a todos. Há algumas curiosidades. Quatro personalidades elencadas são judeus - e o homem que tentou acabar com os judeus no mundo, Adolf Hitler, também está na lista. E quatro entre as dez pessoas mais votadas são associadas ao comunismo, uma ideologia que entrou em colapso no final do século 20.

Certos resultados foram surpreendentes. Empatado com Charles Darwin, Sigmund Freud foi o segundo mais votado pelos especialistas, perdendo apenas para Karl Marx. Brasileiros (não há nenhum entre os vencedores) foram mencionados por estrangeiros, como o historiador britânico Kenneth Maxwell, que indicou José Bonifácio de Andrada e Silva, "a figura crítica na conquista da independência do Brasil". O jornalista e escritor Laurentino Gomes citou o português dom João VI, "um herói às avessas, que transformou o pedacinho do mundo que hoje conhecemos como Brasil". Jesus Cristo foi o favorito dos leitores, mas teve poucos votos entre os especialistas. As escolhas do leitor serviram de critério de desempate, confirmando Jesus e Albert Einstein entre os finalistas.

A lista, não custa ressaltar, não trata dos "dez heróis" ou das "dez pessoas que ajudaram a fazer deste um mundo melhor". Genocidas como Josef Stalin, Mao Tsé-tung e Adolf Hitler tiveram contribuições ao planeta, mesmo sem ter intenção. Nosso mundo também é fruto do que se tenta evitar - e do esforço para que tragédias não se repitam.



CURRÍCULO
Nome: Jeshua ben Joseph

Nascimento: cerca de 7 a 4 a.C., Nazaré, Galileia

Morte: c. 30-36, Jerusalém

Ocupação: Aprendiz de carpinteiro, profeta, mártir, fundador do cristianismo

Jesus Cristo


Fundador da maior religião do mundo e de boa parte da história ocidental

De certa forma, nenhum outro personagem desta lista existiria sem ele. É quase impossível imaginar a história do mundo ocidental sem Jesus Cristo, com séculos de pensamento dedicados a conciliar a filosofia e hábitos pagãos com o monoteísmo importado da Judeia. "Seus seguidores continuam a ser os mais numerosos no mundo, o calendário é baseado nele e constitui o elo entre o judaísmo e o helenismo", afirma o historiador e arqueólogo Pedro Paulo Funari, da Unicamp. Ainda que a civilização cristã raramente tenha conseguido viver pelas palavras de Jesus de amar ao próximo, não julgar para não ser julgado e dar a outra face, a Igreja fundada em seu nome é absolutamente central na História do Ocidente. Tanto que o calendário se divide em antes e depois de Cristo.

Países como Alemanha, França e Espanha só existem porque reis bárbaros se converteram ao cristianismo e ganharam legitimidade após a queda do Império Romano. As Cruzadas introduziram o gosto por especiarias aos europeus, e isso é tanto a origem das Grandes Navegações, na Península Ibérica, quanto do capitalismo que bancou a Renascença, na Itália. Foi a Igreja que fundou as primeiras universidades, e dela saíram vários pensadores que retomaram a filosofia clássica, como Santo Agostinho, Roger Bacon e São Tomás de Aquino. A Reforma Protestante comandada pelo alemão Martinho Lutero liberou o homem para acumular riqueza sem culpa, uma das causas da Revolução Industrial. É um assunto controverso, mas vários pensadores, como o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, relacionaram o cristianismo aos ideais igualitários modernos da democracia e do socialismo.

O personagem mais importante para a história do Ocidente é aquele sobre o qual menos se sabe. Nem uma linha foi escrita sobre Jesus enquanto ele viveu. Autores não cristãos que trataram dele, Tácito e Flávio Josefo, só apareceram décadas após sua morte - e suspeita-se que monges medievais piratearam trechos sobre Jesus nos originais. Quase 2 mil anos depois, a maior fonte sobre sua vida continuam a ser os Evangelhos, que não são livros de História, mas de pregação religiosa.

A busca pelo Jesus histórico é limitada. Pesquisadores costumam comparar os Evangelhos com fatos conhecidos de seu tempo. Por exemplo, como não existe nenhum registro de um censo na Judeia na época de seu nascimento, a maioria dos historiadores acredita que ele nasceu mesmo em Nazaré, não em Belém (fato usado para identificá-lo à estirpe do rei Davi), e isso foi no máximo em 4 a.C., no fim do reino de Herodes, o Grande. Portanto, nosso calendário carrega um erro de cálculo.

Mas alguns fatos bíblicos são amplamente aceitos: Jesus existiu, foi batizado por João Batista e crucificado por Pôncio Pilatos, após um incidente no Templo de Jerusalém. E a religião que fundou já havia chegado à capital do Império Romano no reino de Nero (54-68), décadas depois de sua morte. O que quer que Jesus tenha dito ou feito em vida, o cristianismo não existiria apenas com ele. Paulo de Tarso, que nunca o encontrou em pessoa (teve uma visão), foi quem abriu a religião a todos.

A conversão do imperador Constantino, em 312, tornou o cristianismo a maior religião do mundo, com 2,2 bilhões de fiéis hoje.

O mundo sem ele

Sem Jesus Cristo e o cristianismo, não haveria uma Igreja unificada e forte para preservar o pensamento e conhecimento da Antiguidade durante a Idade Média, nem para avalizar autoridade a imperadores como Carlos Magno (742-814), que começou a impor ordem à Europa. O mundo "ocidental" seria mais voltado ao Oriente, no que restou do Império Romano, da Grécia ao Norte da África. Sem cristãos não haveria o Islã. Maomé derivou um conteúdo considerável de sua doutrina do cristianismo. Jesus era um dos profetas maiores. Em uma Europa bárbara não haveria Renascença, Grandes Navegações ou Revolução Industrial. Talvez outra civilização fosse dominante, como os persas ou indianos. A tecnologia estaria alguns séculos atrasada.



CURRÍCULO

Nome: Karl Heinrich Marx

Nascimento: Trier, Prússia, 5 de maio de 1818

Morte: 14 de março de 1883, Londres, Reino Unido

Ocupação: Filósofo, economista e jornalista






Karl Marx

O Filósofo rebelde que foi à luta pelo socialismo

Marx partiu de uma filosofia para filósofos - o idealismo de Hegel - para uma filosofia de ação. "Os filósofos apenas tentaram interpretar o mundo de diversas formas; o ponto é mudá-lo", escreveu em 1845. E ele mudou mesmo: o século 20 foi marcado pela divisão mundial entre marxistas e defensores do capitalismo de várias vertentes. Como sistema político, a democracia ocidental venceu em 1991 com a queda da União Soviética, um pesadelo totalitário em que ninguém poderia vislumbrar o comunismo prometido por Marx, uma sociedade sem classes, Estado ou opressão. Mas muitos pensadores contemporâneos, como os filósofos Slavoj Zizek e Antonio Negri, e o falecido historiador Eric Hobsbawn, afirmam que ainda é cedo para decretar a morte do marxismo como ideologia. Marx afirmou no século 19 que crises cíclicas eram inerentes ao capitalismo - e o crash de 2008, último de uma série, mostra que essa foi uma previsão certeira. "Sua crença de que a justiça social deveria ser uma razão fundamental de todas as comunidades modernas nem sempre foi bem-sucedida, menos ainda em todas as ditaduras comunistas, mas sua influência foi mundial e contínua", diz o historiador britânico Richard Overy.

No que ele mesmo chamava de praxis, os conceitos de Marx mudaram a geopolítica do planeta. Mas ele também tem uma enorme contribuição acadêmica, o que garante a permanência de seu pensamento como norte intelectual ainda hoje nas ciências humanas. Marx ajudou a criar caminhos intelectuais, como a lógica dialética e o materialismo histórico, que dominariam várias áreas do conhecimento no século 20. Ele é um dos fundadores das ciências sociais, o saber que transformou a mera especulação filosófica em estudo metódico, baseado em conceitos científicos. Vale lembrar que sua teoria é um convite à ação. "Marx criou as bases da mais profunda crítica do capitalismo e lançou ideias para sua superação histórica", afirma o historiador Francisco Alambert, da USP.

Em sua vida pessoal, Marx foi um grande ativista das causas que defendia. Em 1864, fundou e dirigiu a Primeira Internacional, organização mundial de comunistas, anarquistas e sindicalistas. Escreveu e editou jornais revolucionários e tinha colunas em diários convencionais, como o New York Daily Tribune, no qual defendeu o fim da escravidão nos EUA. Tal como Albert Einstein, foi nas horas vagas que escreveu sua obra-prima, O Capital, publicado em 1867. Também misturou a vida familiar com a política - sua filha Laura casou-se com o socialista francês Paul Lafargue, famoso por comandar jornadas em defesa de 8 horas diárias de trabalho em Paris.

Perseguido pelas autoridades europeias, vivendo quase sempre à beira da insolvência (e costumeiramente socorrido financeiramente pelo amigo e parceiro intelectual Frederick Engels), teve sete filhos com a baronesa Jenny von West-phallen. Apenas três sobreviveram até a idade adulta. Quando morreu, Karl Marx era ao mesmo tempo uma celebridade internacional e um apátrida. De certa forma, ele foi o primeiro mártir do marxismo. Sua tumba, em Londres, hoje é ponto turístico da cidade.

O mundo sem ele

O socialismo preconizado por Marx, adotado por sindicatos e partidos de esquerda, foi responsável por diversas conquistas dos trabalhadores, como a jornada de 8 horas, as férias anuais e as leis contra o trabalho infantil. A crítica sistemática da sociedade capitalista iniciada por Marx serviu de base intelectual para movimentos que não têm relação direta com a causa do proletariado, como o feminismo e a luta por direitos civis de negros e gays. Sem Marx, não haveria as tragédias do comunismo soviético e chinês, mas também viveríamos num mundo mais conservador, onde o nacionalismo, na ausência das grandes ideologias, seria um fator importante a dividir os países. "Sem Marx, o materialismo e a luta de classes demorariam a surgir", afirma Pedro Paulo Funari, da Unicamp. "Não entenderíamos a força e a violência do capital", diz Francisco Alambert, da USP. Possivelmente não existiriam instituições como a Comunidade Europeia sem a Guerra Fria para unir os europeus ocidentais.



CURRÍCULO

Nome: Sigmund Freud (Sigismund Schlomo Freud)


Nascimento: 6 de maio de 1856, Freiberg in Mähren, Império Austro-Húngaro (hoje P¿ríbor, República Checa)

Morte: 23 de setembro de 1939, Londres, Reino Unido

Ocupação: Psiquiatra e fundador da psicanálise


Sigmund Freud

Austríaco mudou a imagem que o ser humano tem de si mesmo

À primeira vista, o pai da psicanálise é um personagem destoante nesta lista. Não foram feitas revoluções em seu nome e sua contribuição científica é controversa. Entre seus muitos críticos, Karl Popper, possivelmente o maior filósofo da ciência do século 20, simplesmente excluiu a psicanálise do domínio científico. O complexo de Édipo foi rejeitado por antropólogos, que não confirmaram algo parecido em outras culturas pelo mundo. E, para Freud, o tal complexo era a razão de ser de sua teoria. "No complexo de Édipo reúnem-se os começos da religião, moralidade, sociedade e arte, em plena concordância com a verificação psicanalítica de que esse complexo forma o núcleo de todas as neuroses", escreveu ele em Totem e Tabu.

Mas entre todos os mencionados, Freud é provavelmente o que tem a maior influência no cotidiano das pessoas hoje em dia. Para o professor da Unicamp Pedro Paulo Funari, ele "introduziu a vida interior ou psíquica no centro da maneira como as pessoas entendem e se entendem no mundo". A ideia do que é ser humano foi refundada por Freud. Antes, havia duas concepções principais: o homem cartesiano, uma mente perfeitamente livre e racional, independente do corpo e suas vicissitudes. Ou o Homo economicus, uma máquina de calcular que sempre agia para maximizar resultados e ganhar dinheiro, uma tradição que vai de Adam Smith até Karl Marx. Hoje, cientistas e psicólogos entendem o ser humano como um animal dotado de razão, mas uma razão imperfeita, altamente influenciada por seus desejos e sentimentos, às vezes inconscientes, às vezes inconfessáveis, atormentado pela contradição entre esses impulsos e a vida em sociedade. Ideia surgida com a psicanálise que ciências mais duras, como a neuropsiquiatria e a psicologia evolutiva, só têm reforçado. Alguns conceitos freudianos, como o inconsciente e a razão deturpada pelos desejos, são amplamente aceitos por neurocientistas. Existe, assim, uma revolução freudiana, no "estudo da mente humana, demonstrando que traumas, sonhos, desejos e fantasias têm impacto decisivo no comportamento das pessoas", de acordo com o jornalista e escritor Laurentino Gomes.

Formado em Medicina em 1881, Freud começou a trabalhar como psiquiatra científico, estudando a anatomia do cérebro. Em 1885, na França, teve sua primeira revelação: muitas condições físicas nos pacientes eram causadas por transtornos da mente. De volta à Áustria, tomou contato com Josef Breuer, que descreveu como uma paciente havia melhorado apenas por meio de conversa, caso que interessou vivamente a Freud. Pela mesma época, recomendou ao colega psiquiatra Ernst von Fleischl-Marxow o "antidepressivo" da época, a cocaína. Marxow morreu de overdose em 1891. Esses eventos o levaram a abandonar as drogas e a hipnose para adotar a cura pela conversa, que batizou de psicanálise em 1896. Em 1899, lançou o livro fundador da teoria, A Interpretação dos Sonhos.

Freud refinaria e ampliaria suas concepções até o fim da carreira, ganhando discípulos e tornando a psicanálise uma das terapias mais populares da psicologia do século 20. A nova ideia do ser humano teve imensas ramificações nas artes, cultura e filosofia. Surrealismo, dadaísmo, pós-modernismo - tudo isso nasceu das ideias de Freud.

O mundo sem ele

Paradoxalmente para esse conservador convicto, que considerava o orgasmo pelo clitóris ou qualquer forma de sexo não reprodutivo como falhas no desenvolvimento mental, o mundo seria bem mais "careta" sem ele. Suas teorias influenciaram a arte e o pensamento de vanguarda. A explicação naturalista para o sexo, incluindo a sexualidade na infância, abriu caminho para a revolução sexual, iniciada justamente pelos artistas e pensadores de vanguarda. A filosofia pós-moderna, a rejeição do mundo racional e científico contemporâneo, começa pela dúvida freudiana de uma razão pura. Enfim, sem o austríaco, não haveria os anos 60. O mundo não teria subculturas, mas uma divisão baseada puramente em ideias, entre respeitáveis senhores de paletó e gravata.

Aguardem a continuação.  O que acharam do começo dessa lista?

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