Férias em mim
O despertar nos dias de férias costuma ser diferente. Com mais energia e vontade de jogar o corpo no mundo, na renovação da casa e de si mesmo. Durante as férias, há quem desperte assim também para a cidade de todos os dias.
Há os que acordem para Fortaleza com olhar de surpresa ao ter as horas de férias à sua frente, descobrindo novos e velhos lugares. E há aqueles - muito afortunados - que vivem a cidade cotidianamente com a sabedoria da importância de compartilhar cada espaço, na troca de afetos e no olhar disposto.
Assim, durante as férias, personagens daqui e de fora se misturam pela cidade. Lucimeire Passos nunca tinha visto a orla de Fortaleza por outra perspectiva que não a do calçadão. E descobriu que o passeio de barco mostra que os prédios deixam de ser paredões intransponíveis e passam a delinear o horizonte da cidade em que a rotina costuma ter foco no trabalho e em casa.
A visita de uma amiga da Bahia a fez buscar um programa “de turista”. Se sair de colete salva-vidas para fazer passeio de duas horas no mar que banha a orla de Fortaleza parece ser coisa de turista, Lucimeire guardou uma sensação de que, às vezes, é preciso pés de turista para redescobrir a cidade em que vivemos.
Ao mesmo tempo, ela lembrou que tem outro passeio, também de barco, que nem turista faz: aquele que descortina o rio Ceará, saindo da Barra do Ceará. E, em pouco tempo de andanças nas lembranças pessoais de Fortaleza, pelas praças e parques – carentes de cuidado, é verdade - Lucimeire arrematou que o que falta não é ser turista na própria cidade, é ser curioso.
Ainda à beira-mar, o grupo que reunia primos e amigos na Praia de Iracema usava as novas queridinhas bicicletas compartilhadas para aproveitar o fim de tarde de férias. Para a estudante de Arquitetura Marília Aguiar, as bicicletas estão dando um “olhar humanizado” para a cidade. De férias, ela e os amigos costumam ir à praia, andar e pedalar no calçadão, frequentar os barzinhos da cidade. Programas que gostariam de fazer e a rotina não permite com tal flexibilidade de dia e horário.
E, entre a partilha complicada do espaço do calçadão, as muitas rodas de skates, patins e bicicletas se misturam aos caminhantes, a quem vai jogar bola, tomar banho de mar, sujar o pé de areia.
“Quem garante a gente é o cearense”, afirma Luciana Gonzaga, que trabalha há 16 anos na Praia de Iracema e viu as modificações de movimentação na área. No calçadão, ela e o marido foram precursores do aluguel de patins que tornou a região tão disputada. Segundo ela, em período de férias ou não, são os cearenses que movimentam, alugam equipamentos, fazem a alegria da Praia de Iracema. “Eles aproveitam muito”.
Além do mar
Para longe do mar, há quem redescubra a história do Ceará – sim, há muita história para ser contada sobre esta terra – em caminhadas pelo Centro, em pausas diante de edifícios e prosas para descobrir causos que placas poderiam ajudar a contar.
E também tem grama para deitar pelos territórios de Fortaleza. Mércia Sousa descobriu a praça ao lado do Riacho Maceió e seu verde bom para ler e para levar os sobrinhos adolescentes para tocar violão. Ela também aponta para o rumo do Parque Rio Branco como local para ir com grupos de amigos.
Uma vontade de Mércia? Frequentar o calçadão do Vila do Mar e conhecer o Farol do Serviluz. Confessa que não vai por desconhecimento e por achar perigoso, mas já viu conhecidos postando fotos no Vila do Mar, deixando no ar que pode ir em breve.
E, assim, com um pouco de disposição, um pulo para fora das fronteiras dos locais e sensações já conhecidas, as férias em Fortaleza podem durar bem mais do que 30 dias para quem mora por aqui.
Samaísa dos Anjos
samaisa@opovo.com.br
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