Vivemos numa era em que os desafios são muitos. No entanto, se simplificarmos a vida e a encararmos como uma oportunidade de evolução espiritual, podemos transformar a nossa existência em uma bênção.
Swami Achalananda, da Self Realization Fellowship
Os antigos chineses tinham um
ditado que serve de maldição: “Que você viva em épocas interessantes.” Bem...
cá estamos em uma!
Vivemos em uma época na qual toda a estrutura da civilização
está sofrendo uma enorme transformação.
Swami Sri Yukteswar |
Os velhos modos de pensar trazidos dessa era
inferior estão profundamente entranhados em nossa sociedade e em suas
instituições; é uma consciência que tenta permanecer com grande determinação. À
medida que a nova era progride, tal modo de pensar fica cada vez mais
destoante, cada vez mais conflitante com a consciência da humanidade em sua
evolução para o alto. Isto se manifesta como grande tensão e estresse em nossa
sociedade.
Vemos
isso em toda a parte – no tecido cambiante de nossas vidas individuais, nas
estruturas econômicas e comerciais, no governo, na vida familiar. É um tempo de
enorme progresso, mas, também, especialmente durante o período de transição que
estamos experimentando agora, um tempo de desafios extraordinários.
Então,
não há dúvida de que estamos vivendo em uma “época interessante”! Entretanto,
por meio da compreensão correta, podemos reverter a “maldição” e torná-la uma
bênção. Esses tempos conturbados oferecem grande oportunidade e grande incentivo
para o progresso espiritual.
Em que
consiste o equilíbrio? Os ensinamentos de Paramahansa Yogananda nos mostram um
ideal que abrange os aspectos material, psicológico, emocional e espiritual da
vida – ideal enormemente motivador e inspirador. Todos queremos um corpo
saudável, livre de problemas e fraquezas; não queremos que ele seja um
obstáculo.Queremos
que a mente esteja alerta e que as emoções e sentimentos funcionem a nosso
favor, e não contra nós; queremos que contribuam para relações harmoniosas e
satisfatórias com os que convivem conosco. E, acima de tudo, queremos e
necessitamos muito estar ligados ao lado espiritual de nosso ser, à parte de
nós que é mais intrínseca e que tudo satisfaz – nossa alma.
Contudo,
nesta época extremamente exigente, sujeitos a tantas pressões e a tanto
estresse, temos de investir um pouco de energia, atenção e tempo para alcançar
o equilíbrio. O equilíbrio não vem apenas porque temos a esperança de que ele
virá. Temos de fazê-lo acontecer por meio de um plano e de um esforço
definidos.
Paramahansa Yogananda |
Há
numerosas partes de nossa vida que precisamos pôr em equilíbrio, muitas delas
parecendo conflitar entre si: responsabilidades familiares, ganho da
subsistência, manutenção da saúde, atenção à vida espiritual, estar a par do
dilúvio de informações necessárias para viver no mundo de hoje, deveres para
com as atividades da comunidade ou da igreja e miríades de outras exigências de
tempo e energia.
Para
equilibrar todos esses aspectos da vida, precisamos de algo que os equilibre,
de um ponto de equilíbrio. Quanto mais complexa nossa vida se torna, mais
precisamos perceber que o único ponto de equilíbrio confiável é a consciência
divina universal, que permeia todas as coisas e está subjacente a todas as
atividades materiais e espirituais da vida. Temos de aprender a torná-la nosso
ponto de equilíbrio. Não há outra resposta.
CONCENTRAÇÃO E ENTUSIASMO: FUNDAMENTAIS PARA A
MEDITAÇÃO PROFUNDA
Disse Paramahansa
Yogananda: “Todos os homens e mulheres devem lembrar-se de que sua vida no
mundo pode livrar-se de males sem fim, físicos e mentais, se, à rotina da vida
diária, acrescentarem a meditação profunda.” Observem que ele não disse apenas
meditação, mas meditação profunda. Para aprofundar-se na meditação, é
necessário concentração, focalização da mente.
É por isso que a
primeira técnica que Yogananda ensina nas suas Lições da Self-Realization
Fellowship é uma antiga técnica iogue de concentração. Sua prática aumenta
nossa capacidade de focalizar a mente e, desse modo, nossa capacidade de
meditar de maneira eficaz. Na quietude e tranqüilidade que resultam, nos
interiorizamos cada vez mais profundamente. Todos aqueles de nós que fizemos
esse esforço sabemos como a vida parece maravilhosa quando praticamos uma
meditação profunda. Mas se fizemos uma meditação superficial, depois nos
levantamos e ficamos pensando: “Bem, o que estava fazendo? Não parece ter
adiantado nada.”
No começo de nossa
busca espiritual, costumávamos estar cheios de entusiasmo. Fizemos um esforço
real em nossas meditações e, freqüentemente, tivemos resultados muito bons por
isso. Mas, à medida que passam os anos, há uma tendência a relaxar um pouco e
apenas seguir o curso das coisas. Vocês se sentam para meditar e a mente diz:
“Oh! que dia difícil!” E dez minutos mais tarde, ainda estão pensando como o
dia foi difícil; nem sequer começaram a meditar. Em minha própria experiência,
lutando contra isso, descobri que podia superar o problema fazendo o esforço de
preparar-me para meditar tendo comigo mesmo uma conversa estimulante: “Tudo
bem, mente, vamos meditar. Não quero que me responda. Concentre-se na técnica
de meditação e nem pense em divagar!” Convoquem a intensidade e descobrirão que
a mente obedece e vocês se aprofundam rapidamente.
MANTENHAM UMA VIDA SIMPLES
A vida equilibrada (o modo de viver realmente
espiritual), dizia Yogananda, “consiste em buscar primeiro o conforto da
meditação e, em seguida, tornar muito simples a vida material. Uma vida material complexa
agrada os sentidos, mas poucas pessoas percebem ‘o preço do bem-estar
material’. Escravidão econômica, preocupações de negócios, falta de liberdade,
competição desonesta, guerras, nervosismo, doença, velhice precoce,
infelicidade e morte são a safra de uma vida materialmente ocupada, se estiver
desprovida da apreciação da beleza, da natureza e de Deus.
“Por que passar
todo o seu valioso tempo em busca de coisas perecíveis? Por que não utilizar
seu tempo buscando Deus primeiro, por meio da meditação profunda, até ter o
contato real com Ele? Quando comungar com Ele, você receberá os tesouros
imperecíveis do céu e tudo que necessitar dos benefícios materiais perecíveis
desta vida.”
Todos nós sofremos
muitas exigências relativas ao nosso tempo. Para ter tempo de buscar Deus,
temos de simplificar nossas vidas; não há outro meio de contornar esse
problema. Desperdiça-se muito tempo na busca sem fim de objetos materiais “mais
novos e melhores”. Qual é o resultado da obsessão por aquisições materiais
típica de nossa cultura? O Senhor Buda tratou disso de maneira bem sucinta:
“Aqueles que possuem vacas possuem a tarefa de cuidar de vacas.” Analisem suas
vidas. Quanto tempo dedicam a cuidar de “necessidades” desnecessárias – os
“brinquedos” sem os quais os meios de comunicação e os anúncios lhes fizeram
crer que é impossível viver?
Time. Time. Time. |
É uma ironia que
com tantas bugigangas que, por assim dizer, “poupam tempo”, as pessoas tenham
menos tempo livre do que já tiveram. Uma economista de Harvard, Juliet B.
Schor, pesquisou esse assunto e chegou a resultados interessantes. Um relato de
sua pesquisa na revista Self-Realization diz: “Os americanos modernos
estão trabalhando mais horas do que as pessoas trabalharam em qualquer outro
momento da história, a não ser na Revolução Industrial – gastando mais tempo no
trabalho do que os servos medievais.
Os acréscimos na
eficiência ou na produção podem resultar tanto em maiores ganhos quanto em mais
tempo de lazer”, afirma Schor. “Desde que Henry Ford e outros industriais
revolucionaram os hábitos da força de trabalho, os Estados Unidos, no geral,
optaram caracteristicamente por mais dinheiro.” Neste momento em especial, o
americano médio trabalha o equivalente a um mês mais do que trabalhava há 20
anos. Assim, a pressão está aumentando e a exigência é de renda maior. Mas por
que não optar por um pouco mais de tempo a ser gasto com Deus e uma vida mais
simples?
Quero contar-lhes a
história narrada por John e Elizabeth Sherrill, autores que visitaram o
jornalista e comentarista de TV britânico Malcolm Muggeridge e sua esposa:
“Paramos diante de uma casa simples de tijolos. Um homem de rosto rosado e
cabelos brancos ergueu-se do jardim que estava tratando. ‘Na hora certa’, exclamou
ele. ‘Kitty está aquecendo a sopa.’ Na cozinha, uma mulher de bela aparência,
com cabelos grisalhos amarrados em um coque, estava colocando tigelas em uma
mesa de madeira sem toalha. ‘Quer partir o pão?’, pediu-me ela enquanto tirava
da geladeira um prato de queijo.Este era o almoço
deles todos os dias da semana: sopa de vegetais, pão de trigo integral, queijo
e iogurte. As duas outras refeições também eram padronizadas. ‘Quando penso no
tempo que gastava preparando comida’, disse ela, ‘procurando receitas,
preocupando-me com o que servir aos hóspedes...’ Nenhuma visita pode ter tido
uma refeição melhor do que a que tivemos. Eles simplificaram seus cardápios
para poupar tempo? ‘Sim, tempo e dinheiro.’ Quando olhamos com ar de surpresa
(Malcolm Muggeridge tem sido um dos autores mais vendidos durante décadas),
falaram a respeito de regiões subalimentadas do mundo, que eles haviam visitado
pessoalmente, lugares em que o dinheiro que eles economizavam fazia diferença.
“Não foram só as
refeições sofisticadas que eles eliminaram. Os Muggeridge analisaram todo o seu
estilo de vida e começaram a apará-lo sistematicamente. (...) O tipo de vida
resultante foi, de longe, muito mais pleno, em todos os sentidos. O tempo e a
energia antes consumidos pela mecânica da vida, a escravidão diária
ininterrupta às coisas foram eliminados em grande medida. O
resultado foi terem mais tempo em suas vidas ocupadas para ler, orar, estar um
com o outro, saborear os minutos que passam.
" E isto nos recorda
que passar sem algumas coisas cria espaço para algumas outras coisas. (...)
Recorda-nos que abandonar um prazer abre espaço para a alegria em nossa vida.” (Excertos
de “The Joy of Doing Without”, Elizabeth Sherrill, revista Guideposts,
março de 1994).
Descubram maneiras
de introduzir Deus cotidianamente em suas vidas, o máximo que seja possível.
Reservem um momento para que a mente se interiorize e, embora possam estar
muito ocupados com o trabalho, repitam: “É para Ti, é para Ti.” Então,
continuem com suas obrigações. Essa lembrança constante, esse trazer a mente de
volta ao ponto focal ajuda-nos a manter o equilíbrio interior.
“LEMBRA-TE DO SÁBADO”
O mundo seria
enormemente diferente hoje se as pessoas reconhecessem a profunda sabedoria do
mandamento das escrituras: “Santifica o sábado.” De sete dias na semana, um
deveria ser reservado para meditar, ler livros inspiradores, exercer o máximo
possível de esforço espiritual, tendo, se possível, uma longa meditação de
diversas horas. É um erro sentirem que estão ocupados demais para ter tempo
para essas coisas. Tentem fazê-lo; a vida de vocês vai mudar. Pode ser difícil
no começo, até que criem o hábito, mas todos os que “se lembram do sábado”
descobrem que estão levando uma vida muito mais saudável e equilibrada –
física, mental e espiritualmente.
No fim das contas,
o segredo do equilíbrio é dar prioridade ao que tem prioridade, e isso
significa colocar em primeiro lugar nossa vida espiritual. Quão freqüente é que
coloquemos nossa vida espiritual em segundo, terceiro, oitavo, décimo lugar,
porque achamos que algo mais tem importância! É uma falha da natureza humana.
Continuamente nos iludimos achando que “Não, tenho que fazer isto; não posso
deixar de fazer isto” – e assim acabamos adiando a meditação ou deixando-a
completamente de lado. Temos de disciplinar-nos para superar isso. Agendem suas
vidas. Planejem uma rotina equilibrada, de modo a darem-se certo período de
tempo para a meditação todos os dias, e sigam o plano. Se falharem alguma vez,
apenas tentem de novo. Não desistam. Quando tomarem a resolução de que “eu
farei, não importa o que aconteça”, verão uma transformação maravilhosa em suas vidas.
Este é todo o
segredo do êxito espiritual. Não desistam! Vocês são almas divinas, e a pressão
e o estresse que sentem jamais poderão obscurecer essa centelha radiante da
divindade em vocês. São apenas desafios a serem enfrentados e vencidos
alegremente! Vocês já têm em seu interior tudo o que necessitam. Só precisam
fazer isso aparecer. Assim, continuem a descobrir-se. Continuem a simplificar.
Continuem, e ficarão cada vez mais jubilosos e livres.
Liberdade! Ahhh! |
Este texto foi publicado na Revista Planeta.
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