Já não havia carpideiras no século passado; isto é, as mulheres mercenárias que acompanhavam os funerais sem choramingas, mas com moderados carpidos
Os velórios eram feitos na própria casa, com a participação da família, parentes e amigos, que, prostrados diante do féretro, compungidos, rezavam as mais fúnebres orações com expressões de clamor e evocações aos santos da Corte Celestial.
Todo esse ato de piedade se desenrolava com a chegada dos parentes e amigos; estes, ao tomarem conhecimento do fato, se acorriam para prestar solidariedade à familiar enlutada. Os defuntos eram enterrados na conformidade das posses (condições) econômicas da família daí o velho adágio "cada um enterra o seu pai como pode".
A encomendação
Após a defunção, antes do sepultamento, o contrato celebrado com a empresa funerária, logo chegava à casa do morto.
O pessoal conduzindo a "essa", castiçais, crucifixo, tapete para colocar a "essa", cortinas com detalhes no tecido gorgorão de cor preta e guirlandas prateadas em redor das janelas e bandeirolas, mesa para crucifixo e caderno de anotações com endereços e assinaturas dos que compareciam, para posterior agradecimento.
À distancia sabia-se da existência do velório; o pranto se fazia ouvir mesmo longe da casa do de cujus. Era também sinal da despedida dos parentes e amigos e do ultimo adeus.
Dos ritos
Alguns sepultados eram levados (carregados) à mão. Dependia do grau de merecimento de cada defunto, da posição social e econômica. As saudades e tristezas se traduziam sob as mais variadas formas cobrindo de luto as famílias, parentes e amigos com copiosas tristezas.
Nas residências se colocavam cortinas nas portas, janelas, varandas denunciando a existência no local de um sepultamento. As cortinas ricamente confeccionadas com guirlandas de cor preta e tecido prateado davam as conotações do evento que envolvia em muitas lágrimas o triste episódio.
O cortejo
Eram poucos os postos dos automóveis de aluguer de luxo, previamente contratados para o enterro. A empresa funerária se encarregava de contratar os mais luxuosos carros; assim, sob as expensas da família enlutada, conduzia pessoas, parentes e amigos até o cemitério São João Batista (já em pleno funcionamento).
O carro fúnebre ostentava a altura da situação econômica, estilo de fabricação e classe na condição financeira de cada família. Quanto maior o poder aquisitivo do féretro maior ostentação. Os carros fúnebres que conduziam pessoas de alta estirpe eram de cor preta, com luxuosos penachos em redor dos carros, abertos nas laterais, caixão posicionado no centro da carroceria, cercado com várias coroas de flores diversas dependuradas todas e sobre o ataúde.
Ao chegar ao Cemitério São João Batista, as coroas eram retiradas do carro, juntamente com as fitas de seda tafetá, preto e prateado e cor ouro em fitas lilás com inscrições pregadas nas mesmas; tudo dava um tom sóbrio mencionando o último adeus.
No cemitério
No portão de entrada do Cemitério, o ataúde era retirado pelos amigos e familiares ou autoridades constituídas pelo Estado para dar inicio ao cortejo. O carro com penachos pretos anunciava a chegada do ente querido aguçando mais ainda as emoções..
O féretro inerte aguardava a encomendação do corpo pelo pároco, água benta que o sacerdote espargia sobre o defunto e também nos presentes. A sobriedade e tristeza tomavam conta de todos que ali se prostravam, para as despedidas dos restos mortais. Os sepultamentos saiam da própria residência, pois ainda não havia local para velório na Cidade. (A recuperação do passado sempre ergue uma ponte em direção ao presente).
A natureza da morte
Variava ainda o tipo de enterro diante da doença que o vitimara. Nos casos de doenças infectuosas, os moradores deixavam a casa, fechando-a para proceder uma limpeza geral. Por isso lavavam todas as dependências com poderosos desinfetantes, sendo a "creolina" de grande eficácia pelo teor sobre os micróbios e outras bactérias. Daí para frente, todos da família se cobriam de luto mais severo que se podia apresentar durante certo e determinado tempo.
As mulheres, vestidos ao rigor da dor, além das vestes, chorões, chapéus com véus, sapatos, meias, luvas transpiravam as saudades; os homens, vestidos a caráter de roupa preta, recolhiam-se até aguardar o tempo do "nojo" autorizado pelos órgãos públicos, quando funcionários, ou, na própria residência pessoas, parentes e amigos que, por algum motivo, não puderam comparecer ao enterro.
Os homens botavam na manga ou lapela do paletó ou camisa de colarinho, o indefectível "fumo preto" em sinal de respeito ao falecido; a tarja usava-se durante três, sei meses ou um ano, dependendo do grau de parentesco: viúvas ou viúvos, um ano; filhos seis meses; tios e irmãos três meses; primos um mês. Assim todos compungidos entre abraços tinham as mesmas emoções e falavam a mesma língua de condolência.
A cena social
Algumas viúvas, além do vestido preto, portavam chapéu chorão acoplado ao fichu. As viúvas resguardavam-se na alcova e ao fundo da casa, para não serem vistas por outras pessoas, a não ser pros parentes mais próximos, ficando durante um ano de "luto fechado", sem participar de nenhuma festa ou reunião social.
Só depois poderia começar "aliviar" o penoso luto fechado por mais de um ano, vestindo roupas cujas cores invariavelmente seriam preto e branco, numa, assim, demonstração de respeito e amor ao de cujus.
A partir daí, com o espaço de sete dias, eram todos convidados a participar da missa e, em seguida a visitação à cova no cemitério, encerrando com missa os funerais de sétimo dia, rogando a Deus que conduzisse o de cujus ao Reino dos Céus, perdoando-lhe, então, os pecados.
FIQUE POR DENTRO
A cerca das mulheres carpideiras
As carpideiras prestavam seus relevantes serviços às antigas famílias fortalezenses, quando compareciam aos velórios chorando copiosamente nos recintos fúnebres rogando piedade e salvação para os falecidos, sem sequer conhecê-los. O número de carpideiras dependia das condições econômicas da família do morto. A profissão de carpideira é feminina, cuja função através de acordo monetário consiste em chorar para um defunto alheio, mostrando seus prantos, mas sem nenhum sentimento, amizade ou grau de parentesco. Tudo com o mais profundo clamar cujo olhar dava dó. Era um negócio qualquer entre as partes. No Brasil, a profissão de carpideira veio junto com a colonização portuguesa, onde a carpideira recebia da família do de cujus, "bens moveis" em vez de dinheiro, diante da escassez monetária da época.
Itha Rocha
A carpideira mais conhecida do Brasil chama-se Itha Rocha.
Com seu trabalho chega ganhar até R$ 300,00 (trezentos reais) por cada velório. Já trabalhou em velórios como Lady Diana, Clodovil Hernandes, dentre outros famosos.
Leia mais em: A morte e as representações simbólicas
Itha Rocha
ResponderExcluirQue mulher sinistra
SANTO DEUS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!