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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O Vinho do Místico


Iram se foi co’a Rosa, e a Taça, de Jamshyd,
Dos Sete Anéis ficou onde ninguém conhece.
Mas a Vinha ainda gera antigas Uvas rúbeas
E, ainda, à beira d’Água há um Jardim que floresce.

GLOSSÁRIO – Iram: o estado da vida e da mente em que o homem se volta para o exterior, ou que é consciente dos sentidos. Rosa: prazeres temporários dos sentidos. Taça (...) dos sete anéis: o receptáculo cérebro-espinhal, com seus sete centros, semelhantes a anéis, de consciência e vida. É por esses sete plexos que a vida e a consciência da alma descem, desde o Espírito, para as limitações do corpo, e é por eles que têm de ascender, enfim, para a liberdade no Infinito[1]. Jamshyd: a principesca consciência que a alma tem do Infinito. Onde ninguém conhece: o indivíduo médio é inconsciente da existência desses centros na coluna e de seu significado espiritual. Vinha: a alma. Antigas uvas rúbeas: a bem-aventurança imemorial da alma (o fruto ou uvas “rubi” da vinha da alma). Água: sabedoria. Jardim: Auto-realização, florescente com as qualidades espirituais.
Interpretação Espiritual
           Quando, em meditação profunda, o homem retira sua consciência dos objetos exteriores, vai-se com a “rosa” dos prazeres que dizem respeito aos sentidos e aos desejos. Ainda assim, permanece a principesca consciência que a alma tem do Infinito, absorta no interior, sorvendo a divina consciência, plena de bem-aventurança, da “taça” cérebro-espinhal cujos sete “anéis” são encobertos aos olhos mortais e desconhecidos à consciência usual.
            Sem dar importância à ausência dos prazeres dos sentidos, esse homem contempla um fascinante jardim interior do Espírito, florescente com fragrantes qualidades da alma e iridiscente com as águas da sabedoria, que fluem para sempre. Da vinha da alma, ele colhe as uvas rubi da Auto-Realização, reveladoras, no seu doce paladar, de antiquíssima Bem-aventurança sempre nova.
Aplicação Prática
              Transfira a consciência da alma dos prazeres carnais dos sentidos para as internas percepções espirituais dos sete centro cérebro-espinhais, mediante a meditação profunda da ioga. Ali, a alma experimenta, de maneira intuitiva, a alegria inebriante da Auto-realização.
               No jardim externo dos sentidos, vicejam perfumadas flores de prazeres transitórios, mas, no jardim recôndito da consciência, a alma cultiva, em segredo, qualidades florescentes cuja alegria fragrante nunca esvaece. As flores terrenas abrilhantam a mente do homem por algum tempo, mas as pétalas dos prazeres da alma são eternamente inspiradoras.
                Todo o poder e toda a pompa do reino da vida do homem podem desvanecer-se e todos os receptáculos e instrumentos de prazeres principescos podem ser-lhe tomados; ainda assim, ele sempre poderá achar a felicidade vagando junto às águas curativas da sabedoria e da compreensão, no jardim da bem-aventurança da alma.
                Muitas vezes, quando as pessoas decaem do estado de abundância ao de pobreza, ou do de êxito ao de fracasso, afundam em desespero extremo, sem ver qualquer coisa a quer se agarrar. Alguma se tornam tão desalentadas que são incapazes de encontrar satisfação em qualquer coisa. O insucesso incapacita a iaginação sutil da esperança pelo êxito futuro. Entretanto, por meio da sabedoria e do discernimento, é possível ao homem aprender que a felicidade não depende de circunstâncias externas; deve encontrar-se, antes, nas alegrias mais simples da vida e, principalmente, na bem-aventurança sempre nova da meditação profunda. Embora o destino derrote todos os prazeres terrenos, o homem ainda pode ser feliz agarrando-se às alegrias da alma – simples, verdadeiras e duradouras. É pelo pensamento profundo, pela introspecção, pela inspiração espiritual e pela meditação que elas vêm.
              Por isso, não reúna, apenas, braçadas de alegrias do jardim da vida material. Aprenda, também, junto com seus entes queridos, a vaguear pelo jardim da meditação e da Auto-realização e, ali, recolha a alegria perene.




[1]   Os tratados de Ioga descrevem os sete centros espirituais como chakras (rodas) ou padmas (lótus) cujos “raios” ou “pétalas” irradiam vida e consciência para o corpo. A alma – o supremo Espírito, a vida e a consciência do homem – reside, em consciência cósmica, no mais alto desses centros, no cérebro.

À medida que a vida e a consciência da alma descem pela coluna vertebral e, por meio dos chakras, voltam-se para o exterior, no corpo físico e nos sentidos, suas percepções se tornam gradualmente mais grosseiras até que, afinal, no estado em que se é consciente dos sentidos, a alma, como ego, identifica-se por completo com a forma física que a circunscreve e com seus respectivos modos limitados de percepção e expressão.

O processo de iluminação espiritual consiste em retirar a consciência dos estados mais grosseiros de percepão e dirigi-la para os centros mais elevados, na coluna vertebral e no cérebro. O resultado é a Auto-realização ou real percepção do verdadeiro “si mesmo” como Alma, feita à imagem de Deus, com todas as Suas divinas qualidades, reinando supremamente em alegria e saber tanto sobre o reino do corpo quanto sobre o reino dos céus que está dentro de cada um.

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