Carolina Maria de Jesus (1914-1977) tornou-se conhecida quando, em 1960, publicou o livro Quarto de despejo; diário de uma favelada. Moradora da favela do Canindé, na cidade de São Paulo, a autora registra em um diário o cotidiano cruel do qual é testemunha. São histórias reais vividas por essa mulher negra, de origem humilde, que estudou apenas até o segundo ano do Ensino Fundamental, mas fez da escrita um instrumento para refletir sobre a sua condição. Carolina superou todos os estigmas e tornou-se referência para discussões sobre o preconceito social e a condição dos pobres no Brasil.
21 de maio
Passei uma noite horrível. Sonhei que eu residia numa casa residível, tinha banheiro, cozinha, copa e até quarto e criada. Eu ia festejar o aniversário de minha filha Vera Eunice. Eu ia comprar-lhe umas panelinhas que há muito tempo vive pedindo. Porque eu estava em condições de comprar. Sentei na mesa para comer. A toalha era alva de lírio. Eu comia bife, pão com manteiga, batata frita e salada. Quando fui pegar outro bife despertei. Que realidade amarga! Eu não residia na cidade. Estava na favela. Na lama, as margens do Tietê. E com 9 cruzeiros apenas. Não tenho açúcar porque ontem eu saí e os meninos comeram o pouco que eu tinha.
...Quem deve dirigir é quem tem capacidade. Quem tem dó e amisade ao povo. Quem governa o nosso país é quem tem dinheiro. Quem não sabe o que é fome, a dor, e a aflição do pobre. Se a maioria revoltar-se, o que pode fazer a minoria? Eu estou ao lado do pobre, que é o braço. Braço desnutrido. Precisamos livrar o paiz dos políticos açambarcadores.
JESUS,Carolina Maria de. Quarto de despejo: diário de uma favelada. 8. ed. São Paulo, Ática, 1999. p. 35. (fragmento).
Ainda não li o "Quarto de despejo", mas alguma coisa tem melhorado de 60 pra cá, exceto os políticos. Porém é certo que Carolina adoraria ver Lula como presidente.
ResponderExcluir_Beijos.
Olá Manas....Obrigado pela vossa visita e
ResponderExcluirparabéns pelo vosso cantinho..
Beijos
A primeira edição do livro foi publicada sem maiores revisões para aproveitar a levada de sintaxe da autora, uma favelada, com dois anos de ensino formal, e dona de uma narrativa pura e envolvente.
ResponderExcluirUm grande abraço!