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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

COMO UM ENGENHEIRO SE INTERESSOU PELO IDEAL DE NÃO-VIOLÊNCIA -UM TESTEMUNHO A FAVOR DA CULTURA DE PAZ

Sozinho entre os grandes líderes, Gandhí ofereceu a
alternativa prática da não­-violência. Para reparar queixas e
remover injustiças, o Mahatma empre­gou recursos não‑violentos
que reiteradamente provaram sua eficácia.
(Paramahansa Yogananda)
A mente do engenheiro está sempre trabalhando para desenvolver  soluções inteligentes, econômicas e eficientes a fim de resolver os mais diversos tipos de problemas. Após muita reflexão sobre a vida de Gandhi e suas conquistas no campo da política, concluí que a atitude da não-violência é prática e funciona para resolver eficientemente os problemas que enfrentamos no dia-a-dia. Disse Gandhi: “Durante meio século de experiências, nunca enfrentei uma situação que me deixasse sem auxílio ou não tivesse remédio em termos de não-violência”. E conclamava: “A força de um homem e de um povo está na não-violência. Experimentem!”
Quando tive contato pela primeira vez com a história de Gandhi fiquei vivamente impressionado com a forma como ele conseguiu libertar seu país, a Índia, do jugo dos dominadores, esforço que durou desde o início do século XIX até o ano de 1947. Contrariando todos os prognósticos, Gandhi liderou o processo de independência da Índia sem disparar um único tiro. Para Gandhi, a não-violência é a atitude pragmática do espírito nobre.
Conhecemos muitos casos de vitórias realizadas à base da violência. Conhecemos muitos conquistadores que subjugaram e destruíram seus inimigos com uso da força. Muitos deles são admirados e louvados pela coragem e astúcia. Pense agora num homem franzino, quase esquelético, sem qualquer arma na mão, enfrentando o mais sofisticado e poderoso exército da época! Não é essa uma atitude muito mais corajosa, comparecer ao campo de batalha para enfrentar um poderoso oponente totalmente desarmado?
Uma vida de paz não é uma vida sem problemas e conflitos, o que é impossível. Quando falamos de uma vida de paz, referimo-nos à vida baseada na atitude pacífica e calma que externalizamos no enfrentamento dos problemas e dos conflitos. Para que o ideal de paz não se tornasse abstrato demais e para facilitar o entendimento sobre como essa paz pudesse ser vivida, os antigos sábios da Índia sugeriram uma forma prática de a paz se manifestar nas ações: “ahimsa”, o termo sânscrito que expressa o ideal de não-violência.
Ao invés de analisar subjetivamente se nossa mente está carregada de paz, se estamos ou não seguindo os princípios universais de paz em nossa ação, é muito mais simples verificar se nossa ação é ou não é violenta. Na dúvida sobre a presença de paz em cada atividade basta se perguntar: minha ação contém algum resquício de violência material, verbal, mental ou emocional?
Gandhi baseou sua estratégia de libertação da Índia em ahimsa. No início, nem os indianos acreditaram na possibilidade de uma vitória sem luta armada e talvez você também não acredite, mas está tudo registrado nos anais da história recente – um fato ricamente ilustrado com testemunhos pessoais, fotos e vídeos. Há centenas de livros e filmes realizados para retratar esse acontecimento.
Gandhi dizia que a ahimsa, não-violência, era a estratégia que deveria prevalecer perante as investidas dos seus oponentes.  Ele explicava com clareza como deveria ser expressa essa ahimsa por quem se dispusesse a ajudá-lo na luta pacifista:
1)   Jamais praticar violência material, matando ou ferindo;
2)   Abster-se de qualquer violência verbal, nunca falando mal dos opressores;
3)   Não permitir a violência mental, pensando mal dos inimigos;
4)   Não abrigar no coração qualquer violência emocional, alimentando o ódio aos oponentes.

Esses preceitos foram seguidos à risca por milhares de indianos que apoiaram Gandhi na luta de libertação do seu país. Um dos generais do exército oponente escreveu em uma carta: “Gandhi utiliza uma força que nós desconhecemos”. Essa maravilhosa “força” continua ilustremente desconhecida para muitas pessoas, que continuam utilizando as velhas estratégias de pseudo-esperteza temperada com violência para realizar suas conquistas.
Diante dessa impressionante tecnologia, procurei estudar a vida de Gandhi para me apropriar desse saber e aplicá-lo no dia-a-dia. Se essa força é tão poderosa a ponto de enfrentar um exército inteiro, certamente seria útil para enfrentar meus próprios problemas e conflitos. Gandhi demonstrou que o esforço no desenvolvimento dos valores espirituais serve de grande apoio na lida com as questões cotidianas. Qualquer materialista que verifique os resultados práticos obtidos por ele não mais poderá justificar o desinterresse pela espiritualidade.
Aproveitar esses conceitos dos heróis da humanidade na própria vida significa “pensar globalmente e agir localmente”. A tentativa de colocar em prática esses ensinamentos superiores é uma das mais eficientes formas de aprendizagem e crescimento espiritual. Quando fazemos isso compreendemos de que forma  tais verdades são úteis e quais não cabem numa determinada situação.
 Não é justo simplesmente duvidarmos do poder da não-violência enquanto não fizermos uma tentativa, procurando observar em nós mesmos e nos outros as mudanças reais provocadas pelas novas atitudes. Só após algumas tentativas sinceras e perseverantes é que podemos escolher a melhor maneira de tornar tangíveis os novos ensinamentos.
Essa prática de observar as operações cirúrgicas sobre o próprio ego, pesando e avaliando os efeitos e resultados, é uma forma de tornar científica a espiritualidade. O conhecimento espiritual, dessa forma, é assimilado da maneira certa, sem o risco de ficarmos limitados à cômoda apreciação intelectual.
A não-violência é apenas um aspecto a ser considerado no esforço para desenvolver a cultura de paz na vida. Muitos dos nossos conflitos não são travados contra terceiros - pessoas ou organizações. Há muita guerra ocorrendo na consciência de cada pessoa – muitos conflitos manifestando-se em patologias físicas, mentais e espirituais. Uma das mais importantes escrituras da Índia, o Bhagavad Gita, trata da batalha interna, a luta entre o ego (a instância externa da existência) e a Alma (a essência), e sobre como vencê-la.
Paramahansa Yogananda elaborou um treinamento completo para manter sempre alimentada a planta da paz em nossa consciência: “assim como se necessita de um certo treinamento para se dedicar à arte da guerra, também é necessária uma preparação para enfrentar as batalhas das atividades da vida. Os guerreiros que carecem de treinamento morrem rapidamente no campo de batalha; do mesmo modo, as pessoas que não estão treinadas na arte de preservar a paz interior são rapidamente abatidas pelas balas das preocupações e da inquietude da vida ativa”.
Sabemos que um gesto impensado, uma decisão emocional, uma palavra mal colocada ou um momento de destemperança pode jogar por água abaixo muitas conquistas realizadas na vida. A capacidade de encarar com tranquilidade e calma todos os eventos, até as situações de infortúnio, é considerada na Bíblia como uma das mais elevadas conquistas que um ser humano pode alcançar: “Vale mais um homem paciente do que um herói; vale mais dominar-se a si mesmo do que conquistar uma cidade” (Provérbios 16,32).
Arnóbio Albuquerque, nosso irmão
graduado em engenharia elétrica,
mestre em educação

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