Vocabulário lindimais*!
Existe um texto que circula pela internet, assinado por Assis Coelho, que diz o seguinte:
"Em Fortaleza é assim: a cidade é 'pai d'égua', pois o ano todo faz um calor de rachar o quengo. E toda noite tem comédia, afinal, o povo é moleque e 'bonequeiro' que só! 'Tem é zé' pra um cabra conhecer aqui e depois querer 'capar o gato'. Pode ser liso, estribado, vir de perto ou da 'baixa-da-égua'. 'Arré', se a cidade é boa assim, avalie o povo! Tem gente de todo jeito: do 'fresco' ao invocado, do 'batoré' ao 'galalau', dos 'gato réi' às 'espilicute', do cabra-macho ao 'fulerage' e muitas outras 'marmotas'. Valha-me Deus! Que diabo é isso? Tão bom que nem presta. É por isso que nas férias dá uma 'ruma' de turista, todo doido por uma 'estripulia', pois sabem que Fortaleza não é de se 'rebolar no mato'. Arre égua, ô 'corra linda' essa cidade, 'mah'!"
Por mais que pareça improvável, esse texto pode ser dito, sim, pois o Ceará detém um dos vocabulários mais ricos e engraçados do país. Ainda que a norma culta não reconheça esse dialeto, o falar cearense é objeto de diversos dialetais e sociolinguísticos, com foco no léxico. Segundo o historiador Raimundo Girão, em seu livro Vocabulário Popular Cearense (Edições Demócrito Rocha, 2000), existem vários estudos sobre o idioma cearense: Atlas Linguístico do Estado do Ceará; Antologia do Folclore Cearense, de Florival Serraine; e Fonética do Português do Ceará, de Martins de Aguiar.
No prefácio da primeira edição da obra, Girão diz que esses estudos dos falares regionais devem existir para a do entendimento da própria identidade, mas nunca para qualificá-los como 'dialetos caipiras' ou algo parecido. Segundo ele, termos e expressões da linguagem popular, cheia de vivacidade, de originalidade, de criações às vezes estapafúrdias e inexplicadas, às vezes gaiatas, movimenta-se em variadas transições. "É o linguajar do povo, cheio de intercomunicações, pela palavra, da gente que não obedece, porque não sabe, ou porque não quer, a cânones ou a draconianas imposições gramaticais, e, portanto, não há de ser confundida com a camada social que se serva da linguagem corrente, comum, mediante disciplinada. Essa mesma linguagem popular compreende, não só, em grande parte, os empréstimos do tupi e das falas negras, como vocábulos lindamente lusos, arcaizados em Portugal, mas persistentes e encontradiços em comunidades do interior ou sertão, que viveram mais isolados dos centros urbanos, onde a linguagem corrente, à custa de fatores diversos, os esqueceu ou desprezou. (...)
E é ele, Raimundo Girão, que dá os significados e as origens de algumas das expressões citadas aqui. Confira:
Baixa-da-égua: Lugar imaginário para onde se manda alguém, insultosamente: "Vá prá baixa-da-égua", suma-se!, retire-se!. Lugar muito distante: "É pra lá da baixa-da-égua".
Batoré: Baixo e grosso, entroncado.
Espilicute: Saída, espevitada, afetada nos modos e no falar.
Galalau: Pessoa muito alta e ousada. Segundo João Ribeiro, tem a palavra origem em Galalon ou Galelon, um dos paladinos de Carlos Magno, sujeito alto e magro.
Marmota: Indivíduo mal vestido, desengonçado; o mesmo que marmotoso, coisa extravagante, encenação misteriosa; espantalho que se coloca nos roçados para afugentar os passarinhos e defender de sua devastação os plantios. Parece vir do francês: marmotte.
Ruma: Quantidade - "uma ruma de gente estava na festa".
*Lindimais; corrutela de "lindo demais".
Fonte: Revista PENSE!
OLÁ ÉRIKA E BÁRBARA
ResponderExcluirO VOCABULÁRIO CEERENSE É AINDA MAIS COMPLICADO QUE O DA MINHA TERRA . UM GRANDE ABRAÇO .Alberto
Sério? Rsrsrsrsrs...
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