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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Bairro Pici



Há pouco mais de duas décadas, um grupo de mulheres se organizava para invadir um terreno na região do Pici. Entre elas, estava Zelma Venâncio da Silva, hoje conselheira fiscal da Associação dos Moradores do bairro. Ela recorda que, no início, existia um grupo pequeno de moradores de diferentes bairros de Fortaleza que faziam reuniões para discutir como seria concretizada a ação. “Aqui não tinha nada, só uns campos de futebol”, recorda. Apesar de não lembrar precisamente a data, ela diz que a invasão aconteceu durante a noite.

Outra participante do grupo era a professora Joana Rocha, 51. Ela comenta que a notícia se espalhou rápido e, quando menos se esperou, o número de barracos havia crescido assustadoramente. Segundo matéria do jornal O POVO, na época, a ocupação, de início, contava com cerca de 500 pessoas. “Começou com barracos de lona e taipa. E faziam muito medo pra gente, dizendo que ia sair na peia”, relata Joana.



Os próprios ocupantes começaram a se organizar para evitar que a situação fugisse ao controle. “O (nosso) medo era de se tornar uma favela grande”, diz Zelma. Assim, eles começaram a se organizar. O grupo planejava, por exemplo, o desenho e o nome das ruas do futuro bairro que, nos dois primeiros anos, ficou conhecido como Riacho Doce.

O improviso no planejamento explica a formação das ruas estreitas e sinuosas existentes hoje no Pici. Depois de garantir a posse das casas, os moradores tiveram que lutar muito para conseguir água, saneamento, pavimentação e transporte. “Aqui os moradores são muito conscientes”, garante Zelma.

De acordo com os moradores, o terreno invadido era utilizado como base aérea americana na década de 1940, durante a 2ª Guerra Mundial. Período que os moradores costumam se referir como “nos tempos dos americanos”.

Inclusive, a presença estrangeira gera uma contradição em relação a origem do nome do bairro. De acordo com Zelma, a base era chamada de Post Command (PC). A sigla tem a sonoridade “pi” e “ci”. Porém, o memorialista Miguel Ângelo de Azevedo (Nirez) esclarece que as origens do nome são bem mais antigas. Por volta de 1870, havia um sítio na região pertencente a família Braga. Segundo Nirez, o proprietário leu o romance Iracema, de José de Alencar, e fez uma homenagem aos protagonistas Peri e Ceci. Assim, decidiu chamar o sítio de Peci. “Depois, com a mudanças de ortografia, ficou (conhecido como) Pici”, explica.

A presença militar norte-americana fez com que surgisse até uma lenda do bairro. A dona de casa Maria Martene, 59, diz que há o boato de que “aviões estão enterrados no bairro”. Outro causo do Pici ganhou as páginas do O POVO em 1954. A matéria de Edmundo de Castro relatava a possível existência de um tesouro escondido no Pici. “Presume-se que naquele bairro encontre-se um subterrâneo abarrotado de ouro e outros metais deixados pelos holandêses”, começava o texto.

Segundo a matéria, as primeiras escavações foram feitas em 1918, quando o então proprietário Pedro Filgueiras Lima teve um sonho com o tesouro. Porém, só foram encontrados mármores com escritos estrangeiros e outros objetos. A notícia, na época, provocou uma verdadeira “romaria ao Pici”. Porém, nada foi encontrado e a escavação foi proibida pelo então presidente João Thomé, após uma tentativa frustrada do governo em comprar o terreno. Hoje, pode-se dizer que o tesouro do Pici é o próprio povo.

3 comentários:

  1. Muito lindo o que vocês relatam meninas e também por esse bairro não ter se tornado uma comunidade que falamos "Favelas".
    Gostei muito do texto.
    Bjs,obrigada pela visita e uma ótima semana.
    Carmen Lúcia.

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  2. Imagina daqui uns anos, ou séculos, começarem a escavar pra construir algo moderno da época e encontrarem o tesouro? E que nada valerá além de relíquia? Me lembrei de navios naufragados que continham tesouros, não de ouro, mas peças importantes e valiosas pra época, e que agora são relíquias de museu, sem dono nem nada.
    Olha eu viajando no submerso do solo e no provável esconderijo... Todos mortos daquela época e que nada levaram daqui.
    Uma comunidade unida e consciente é outro nível.
    Beijos, meninas!

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