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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Espaço Cultural Correios Fortaleza

Inaugurado oficialmente no dia 5 de agosto de 2005, o espaço Cultural dos Correios é mais um equipamento à cultura que se instalou no centro de Fortaleza. O local onde está instalado já é uma obra de arte. É o edifício Sede dos Correios e Telégrafos de Fortaleza, um prédio de arquitetura trabalhada construído em 1932.


Num ambiente climatizado de 100m2, o Espaço Cultural dos Correios surge como um ponto de concentração da cultura e de fácil acesso ao público. O local tem a pretensão de se tornar um ambiente de divulgação de todas as artes de âmbito nacional e regional, de artistas iniciantes e consagrados. Além das exposições, o Espaço Cultural dos Correios vai ofertar mini-cursos e palestras.



A consolidação dos Correios como fomentador da cultura faz com que artistas procurem suas dependências para mostrar a diversidade de talentos e estilos. Nessa parceria, ocorre a democratização do conhecimento e das identidades históricas do Ceará.

Visitação:
Espaço Cultural Correios
Rua Senador Alencar, 38, Centro
Fortaleza - CE
Funcionamento:
de 08h00 às 17h00, de segunda à sexta-feira, e sábados, das 08h00 às 12h00

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O café no Ceará

Antes de chegar  à atual região Sudeste, onde se tornou o principal produto da economia brasileira, o café já era plantado em algumas áreas do Norte e do Nordeste, inclusive no Ceará. Mas essas pequenas lavouras eram destinadas ao consumo familiar e não ao comércio.

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 Colheita do café, (1834-1839) de Johann Moritz Rugendas.
 O desenho representa a colheita de café nas encostas da serra da Carioca. Ao fundo, a lagoa Rodrigo de Freitas e o Pão de açúcar.
O café é uma planta originária do norte da África. As primeiras mudas chegaram ao Brasil no século XVIII, em Belém do Pará, trazidas das Guianas. A partir de meados do século XIX, o café passou a ser plantado em áreas maiores e, por várias décadas, tornou-se a principal riqueza brasileira.
Nessa época se formaram as primeiras fazendas de café nas serras cearenses.
As serras de Baturité e Aratanha, bastante próximas de Fortaleza, foram as que mais atraíram os fazendeiros. Mas também surgiram cafezais em outras terras altas do Ceará, como na chapada de Ibiapaba, onde o clima e o solo eram propícios ao cultivo do grão. O volume do produto não era tão grande quanto o obtido nas lavouras de São Paulo e do Rio de Janeiro, mas foi suficiente para promover o desenvolvimento de várias cidades. O café cearense era transportado para os portos mais próximos, em especial o de Fortaleza, de lá seguia para a Europa e os Estados Unidos. Essa época de prosperidade econômica deixou suas marcas, como podemos ver nas imagens a seguir.

- Casarão da família Pereira, em Aratuba -


- Sítio são Luiz, em Pacoti -
As primeiras fazendas de café eram rústicas e simples, mas à medida que as vendas do produto cresceram, isso se refletiu nas propriedades. Casas amplas e confortáveis  às vezes até mesmo luxuosas, foram construídas para as famílias dos fazendeiros.
Muitos fazendeiros faziam doações em dinheiro para a construção de capelas em homenagem ao santo de sua devoção ou investiam na melhoria das precárias estradas da época.
Ao lado das capelas, pessoas que prestavam serviços aos fazendeiros começaram a construir suas casas. Assim se formaram novos povoados, e muitas vilas antigas se desenvolveram em torno das fazendas.

Atualmente ainda se planta café na serra de Baturité. São cerca de 3 500 hectares de área plantada, que abrange quatro municípios: Baturité, Guaramiranga, Pacoti e Mulungu.

domingo, 20 de janeiro de 2013

São Sebastião

 20 de janeiro celebramos o Dia de S. Sebastião

São Sebastião nasceu em Milão, na Itália, de acordo com Santo Ambrósio, por volta do século III, embora haja versões de que tenha nascido em Narbonne, na França. Pertencente a uma família cristã, foi batizado ainda pequenino. Mais tarde, tomou a decisão de engajar-se nas fileiras romanas e chegou a ser considerado um dos oficiais prediletos do Imperador Diocleciano.

A reprodução do martírio de São Sebastião, amarrado a uma árvore e atravessado por flechas é uma imagem milhares de vezes retratada em quadros, pinturas e esculturas, por artistas de todos os tempos. Entretanto, nem todos sabem que o destemido Santo não morreu daquela maneira. O suplício das flechas não lhe tirou a vida, resguardada pela fé em Cristo. Vejamos como tudo aconteceu.


Ele fazia tudo para ajudar os irmãos na fé, procurando revelar o Deus verdadeiro aos soldados e aos prisioneiros. Secretamente, Sebastião conseguiu converter muitos pagãos ao cristianismo. Até mesmo o governador de Roma, Cromácio, e seu filho Tibúrcio foram convertidos por ele. Em certa ocasião, Sebastião foi denunciado, pois estava contrariando o seu dever de oficial da lei. Teve então, que comparecer ante ao imperador para dar satisfações sobre o seu procedimento. 

O imperador da época era ninguém menos que o sanguinário Diocleciano, que lhe dispensara admiração e confiara nele, esperando vê-lo em destacada posição no seu exército, numa brilhante carreira e por isso considerou-se traído. Levado à sua presença, Sebastião não negou sua fé. O imperador lhe deu ainda uma chance para que escolhesse entre sua fé em Cristo e o seu posto no exército romano. Ele não titubeou, ficou mesmo com Cristo. A sentença foi imediata: deveria ser amarrado a uma árvore e executado a flechadas. 



Após a ordem ser executada, Sebastião foi dado como morto e ali mesmo abandonado, pela mesma guarda pretoriana que antes chefiara. Entretanto, quando uma senhora cristã foi até o local à noite, pretendendo dar-lhe um túmulo digno encontrou-o vivo! Levou-o para casa e tratou de suas feridas até vê-lo curado.

Depois, cumprindo o que lhe vinha da alma, ele mesmo se apresentou àquele imperador anunciando o poder de Nosso Senhor Jesus Cristo e censurando-o pelas injustiças cometidas contra os cristãos, acusando-o de inimigo do Estado. Perplexo e irado com tamanha ousadia, o sanguinário Diocleciano o entregou à guarda pretoriana após condena-lo, desta vez, ao martírio no Circo. Sebastião foi executado então com pauladas e boladas de chumbo, sendo açoitado até a morte, no dia 20 de janeiro de 288. 

Os algozes cumpriram a ordem e, para evitar a sua veneração, foi jogado numa fossa, de onde a piedosa cristã Santa Luciana o tirou, para sepulta-lo junto de São Pedro e São Paulo. Posteriormente, em 680, as relíquias foram transportadas solenemente para a Basílica de São Paulo Fora dos Muros, construída pelo imperador Constantino. Naquela ocasião em Roma a peste vitimava muita gente, mas a terrível epidemia desapareceu na hora daquela transladação. Em outras ocasiões foi constatado o mesmo fato; em 1575 em Milão, e em 1599 em Lisboa, ambas ficando livres da peste pela intercessão do glorioso mártir São Sebastião.



Túmulo de S. Sebastião, em sua Basílica, Roma

No Brasil, diz a tradição, que no dia da festa do padroeiro, em 1565, ocorreu a batalha final que expulsou os franceses que ocupavam a cidade do Rio de Janeiro, quando São Sebastião foi visto de espada na mão entre os portugueses, mamelucos e índios, lutando contra os invasores franceses calvinistas. 
Ele é o protetor da Humanidade, contra a fome, a peste e a guerra e é claro do cartão postal do Brasil, a cidade maravilhosa de São Sebastião do Rio de Janeiro.

Atualmente no Brasil S. Sebastião é padroeiro de 122 Cidades. E no Ceará, São Sebastião é padroeiro das paróquias de Pedra Branca, Monsenhor Tabosa, Ipú, Nova Olinda, Mulungu, Choró, Apuiarés e Co-padroeiro de Aquiraz, Maranguape e também de Ipaumirim.
Distrito de Laranjeiras (Banabuiú), Lima Campos, distrito de Icó, Mangabeira, Fazenda Facão, interior de Quixeramobim, José de Alencar (Iguatu) e Candeia  São Sebastião (interior da cidade de Baturité). 

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Na Capela da Pedra, em Ipaumirim, três imagens do santo lembram o mártir de Cristo, que morreu reafirmando a fé no Salvador.

Fonte: http://www.paulinas.org.br

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Fóssil de camarão na Bacia do Araripe

Fossil
A descoberta do único fóssil de camarão no mundo, na Bacia Sedimentar do Araripe, é destaque nos principais jornais do País, além de contar com a publicação em revista internacional especializada. O material de mais de 100 milhões de anos, da era Cretácea, foi apresentado à imprensa na manhã desta quinta-feira (17), na sede do Geopark Araripe, por estudiosos da Universidade Regional do Cariri (Urca).

O novo crustáceo fossilizado recebeu o nome de Kellnerius jamacaruensis, em homenagem ao paleontólogo Alexandre Kellner, e ao local onde foi localizado o fóssil, no distrito de Jamacaru, na cidade de Missão Velha, no sul do Ceará. O material foi apresentado pelo coordenador da maior escavação controlada do Nordeste, iniciada em 2011, o Paleontólogo Álamo Feitosa, e a aluna do curso de Biologia da Urca, que Caroline Mayara da Silva.
Medindo 1,8 cm de comprimento, o material foi encontrado depois de 11 dias de escavações, a 9,5 metros, em maio do ano passado. O fóssil custou aos pesquisadores um trabalho detalhado e bastante cuidadoso na preparação da rocha, para revelar a forma do camarão. Foram utilizados equipamentos como uma lupa, para aumentar em até mais de 60 vezes o tamanho do crustáceo e instrumentos delicados como uma agulha para a aplicação de insulina.


O trabalho das escavações continua este ano na cidade de Campos Sales, depois do período das chuvas. Três grandes escavações deverão acontecer na localidade. Essa descoberta recente, ocorreu na segunda grande escavação, na parte leste da Bacia Sedimentar do Araripe. A primeira foi na parte Oeste, no Município de Araripe.

http://www.cearanews7.com.br/

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Aprendendo com as dificuldades


Doenças e dificuldades nos trazem uma lição. Nossas experiências  dolorosas não foram feitas para nos destruir, mas para incinerar nossas impurezas e nos apressar, na nossa volta ao Lar. Ninguém está mais ansioso pela nossa libertação do que Deus.

A cortina-de-fumaça da ilusão se interpõe entre Deus e nós, e Ele lamenta que O tenhamos perdido de vista. Ele não gosta de ver Seus filhos sofrerem tanto - morrendo por causa de bombas que caem, de doenças terríveis e de hábitos de vida errôneos. Deus lamenta isso tudo, pois nos ama e no quer de volta. Se pelo menos você fizesse o esforço, à noite, de meditar e estar com  Ele... Ele pensa tanto em você... Você não foi abandonado. Foi você quem abandonou seu verdadeiro Ser.

Quando você toma as experiências da vida por instrutores e aprende com elas a verdadeira natureza do mundo e o papel que você desempenha nele, essas experiências se tornam guias valiosos para chegar à satisfação e à felicidade eternas.
Em certo sentido, a infelicidade é sua melhor amiga, porque o impulsiona a buscar Deus.
Quando você começa a ver claramente a imperfeição do mundo, começa a procurar a perfeição de Deus. A verdade, é que Deus está usando o mal, não para nos destruir mas para nos desiludir de Seus brinquedos, das distrações deste mundo, de modo que possamos buscá-Lo.

O desalento não é senão a sombra que projeta a mão da Divina Mãe, quando se estende para acariciar. Não se esqueça disso. Às vezes, quando a Mãe vai acariciá-lo, Sua mão produz uma sombra, antes de tocá-lo. Desse modo, quando as dificuldades chegarem, não imagine que Ela o está punindo. Sua mão, que projeta sombra sobre você, detém uma bênção, ao estender-se até você para trazê-lo para mais perto Dela.
O sofrimento é um bom professor para os que aprendem com ele, rapidamente e de boa vontade, mas torna-se um tirano para os que resistem e se ressentem.

O sofrimento pode nos ensinar quase tudo. Suas lições nos estimulam a desenvolver  discernimento, autocontrole, desapego, moralidade e consciência espiritual transcendente. Uma dor de estômago, por exemplo, nos diz para não comermos em excesso e prestarmos atenção ao que comemos. A dor resultante da perda de riquezas ou de pessoas queridas nos lembra a natureza temporária de todas as coisas neste mundo de ilusão. As  conseqüências das ações errôneas nos impelem a exercitar o discernimento.

Por que não aprender por meio da sabedoria? Dessa maneira você não se submeteria à dolorosa disciplina - desnecessária - desse rude capataz: o sofrimento. O sofrimento é causado pelo mau uso do livre-arbítrio. Deus nos deu o poder de aceitá-Lo ou rejeitá-Lo. Ele não quer que tenhamos de enfrentar infortúnios, mas não vai interferir quando optarmos por ações que levem à infelicidade.
Yogananda
Trechos extraídos dos livros: Onde Existe Luz, A Eterna Busca do Homem e Afirmações Cientificas de Cura.
 Fonte: http://www.almasdivinas.com.br

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Índia

Terminal ferroviário de Chhatrapati Shivaji 
(antigo terminal Vitória)
Este terminal ferroviário construído entre os anos de 1878 e 1888 em Mumbai (antiga Bombaim), na Índia, é uma obra arquitetônica que manifesta de um lado a forte presença da cultura britânica nesse país, no século XIX, e por outro lado exibe características da tradicional arquitetura da região.
Frederick William Stevens, arquiteto inglês, pesquisou as estações europeias para desenvolver seu projeto para o terminal ferroviário de Mumbai. Provavelmente dessa pesquisa resultou uma obra suntuosa que revive tardiamente o estilo gótico europeu, mas que se associa à arquitetura dos palácios da Índia. Internamente a obra da estação ferroviária contou com a participação de estudantes da escola de arte da antiga Bombaim que realizaram, por exemplo, talhas em madeira, grades ornamentais para bilheterias e balaústres para as escadas.
Em julho de 2004, essa estação que, no século XIX, com seu nome homenageou a rainha britânica Vitória, passou a ser considerada patrimônio da humanidade pela Unesco.

Fonte: PROENÇA, Graça. História da Arte. São Paulo, 2011. Editora Ática.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Conhecendo Fortaleza

 As origens históricas de nossa gente e praças e avenidas do xadrex central

Sobrado Dr. José Lourenço
Num Centro praticamente vazio, a cidade de Fortaleza consegue se mostrar. Quem passa por ali num dia de domingo, com um olhar tranquilo, consegue ver as várias nuances que a multidão teima em deixar cobertas nos dias mais movimentados, como as manhãs de sábado.

Observe, por exemplo, aquilo que hoje são as lojas. Apesar de a maioria dos prédios se esconderem por trás de fachadas, um bom observador consegue enxergar os casarões que serviram de residência. Muitos não são conservados, mas alguns ainda mantêm a arquitetura original. O Sobrado Dr. José Lourenço – onde funcionam museu, café e biblioteca -, na rua Major Facundo, é um exemplo. Ele é um pequeno palacete de três pisos, construído por um médico de mesmo nome, no fim do século 19.
Ainda hoje, existem os persistentes que moram no Centro. Maria Lúcia Sebastiana, dona de um bar, sequer precisa pegar ônibus: em cada rua, ela consegue resolver uma questão bancária, consultas médicas, comprar roupa ou móvel. Moradores como esses, e outras 24 mil pessoas, são resistentes em habitar o Centro de Fortaleza, são apegados a ele e dele não desejam sair. “Aqui no Centro, é bom demais. Tudo a gente resolve perto”. A fala de Maria Lúcia demonstra bem o Centro como um local de ocupação comercial e para serviços essenciais.
Não existe consenso em relação a um local considerado marco zero para a cidade, ou seja, em que local começou a se constituir Fortaleza. Centro e Barra do Ceará disputam esse marco. Entretanto, aglomerações de moradia, comércio e serviços, definição de bairro, são características bem mais presentes no Centro que na Barra do Ceará da época da colonização.
É registrada na história a construção do Fortin Santiago, em julho de 1604, pelo militar açoriano, radicado na Paraíba, Pero Coelho. Ele foi donatário da capitania do Siará Grande, a partir de 1603. Estava em sua companhia um jovem que viria a ser imortalizado na obra de um cearense ilustre, que foi o escritor José de Alencar, o militar Martim Soares Moreno. Na viagem, o aprendizado foi grande, tanto que o “guerreiro branco” será um dos grandes colonizadores do nosso Estado.
Foi ao redor do antigo forte de Schoonenborch, construído pelos holandeses, reformado pelos portugueses e rebatizado de Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, que foram construídas as primeiras moradas. O Forte, hoje, é a 10ª Região Militar do Estado do Ceará, Piauí e Maranhão, local de plena atividade, no Centro, com arquitetura preservada ainda do período colonial.
O Centro já concentrou as moradias da maioria dos fortalezenses. Com o crescimento e desenvolvimento, comércio e serviços tomaram conta da região. Em volta dos casarões e hotéis elegantes e abastados, pequenas residências conviviam e foram transformadas em lojas e shoppings. Até meados do século XX (1950), o Centro ainda se configurava como um bairro presidencial.
“As pessoas se incomodavam primeiro com o barulho, o amontoado de gente e procuraram a Jacarecanga”, descreve o professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará, José Borzaquiello. O bairro começou a surgir logo depois do Centro, como uma alternativa para a elite. Ainda hoje, casarões estão erguidos na região, que fica do lado oeste do bairro central. Como a Jacarecanga passou a concentrar fábricas, o lado leste virou alternativa. Assim, surgiu a Aldeota.
Na ida para a Aldeota, a preocupação da elite era não viver próximo às fábricas. Segundo o professor Macêdo Filho, a Aldeota concentrava uma maior quantidade de ventos, o que tornava o bairro mais agradável. Comisso, a elite fortalezense foi migrando primeiro para o Jacarecanga e, em seguida, para a Aldeota.
“A direção dos ventos no sentido leste-oeste assinalava orientações dos higienistas sobre a conveniência de instalar moradias em regiões de barlavento, reservando os trechos de sotavento para equipamentos e serviços cujos subprodutos pudessem gerar malefícios à saúde”, aponta Macêdo Filho.


Sede da Prefeitura, o Paço Municipal que também é conhecido de Palácio do Bispo
Fortaleza tinha tudo para não vingar
Segundo alguns historiadores, a cidade de Fortaleza tinha tudo para não vingar. Esquecida, miserável, ninguém lhe dava cabimento. O pequeno vilarejo que surgia em volta da Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção sequer era representativo em sua região. “Fortaleza era periférica em relação à própria capitania. E o Ceará tinha um papel absolutamente secundário para a economia colonial”, revela o professor do Antônio Luiz Macêdo Filho.
Que trilhos, então, fizeram com que o povoado se tornasse a quinta maior capital em população e uma das maiores economias do País? Os principais critérios, na avaliação do professor Macêdo, estão ligados à emancipação política do Ceará, quando pôde se desvencilhar de Pernambuco, e à privilegiada localização de Fortaleza.
Por ter vasto litoral, a cidade passou a receber a maior parte dos artigos de exportação e importação. “Fortaleza, até as primeiras décadas do século XIX, era um aglomerado humano sem maior expressão, com suas choupanas de palha e poucos edifícios de destaque”, confirma o professor da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFC, Romeu Duarte. O povoado que começava a surgir ao redor da fortaleza foi ganhando corpo e brios a partir da emancipação política do Ceará.
O bairro reúne parte significativa da história da cidade, em suas ruas de traçado xadrez, herdado do projeto do engenheiro militar José da Silva Paulet, feito em 1812. A expansão para os bairros Benfica, Jacarecanga e Aldeota tentaram, ainda, dar continuidade ao traçado. Com o inchaço da cidade, principalmente a partir do êxodo rural provocado pelos constantes períodos de seca, ficou difícil manter esse formato.
Ainda hoje, podemos dizer que Fortaleza é cidade “adolescente”. Quando alguns municípios do Brasil já afloravam em desenvolvimento, a Capital ainda dava seus primeiros passos. A cidade tem apenas 286 anos, completados em 2012. Quando Fortaleza ainda era chamada de vila, as cidades de Salvador, Rio de Janeiro e Recife já estavam em pleno desenvolvimento.
Além do vasto litoral, outro importante elemento que proporcionou desenvolvimento a Fortaleza foi o riacho Pajeú. Aterrado e praticamente desaparecido, ainda é possível encontrá-lo no Parque Pajeú, da avenida Dom Manuel; no bosque Dom Delgado, no Paço Municipal; e já no Mucuripe, onde deságua no mar. Ali, as pessoas tinham água potável para beber e cozinhar.
Foi às margens do Riacho Pajeú que se desenvolveu o palacete de arquitetura mista e, para os padrões de Fortaleza, antigo.

                          Palácio do Bispo
Na boca do povo e de quem viveu sobre seu piso de madeira vermelha, o prédio ainda hoje é conhecido como Palácio do Bispo. A alcunha é pelo fato de o local ter abrigado, por mais de 100 anos, de 1860 a 1973, a residência episcopal. Serviu de morada aos bispos e padres, além dos seminaristas que recebiam as aulas religiosas em seus aposentos. Localizado num terreno atrás da Catedral Metropolitana de Fortaleza, na rua São José, o Palácio passou do poder religioso ao poder público municipal e, hoje, é a sede da Prefeitura Municipal de Fortaleza.
“Do nosso passado arquitetônico, ele é um prédio raro, embora não muito antigo do ponto de vista histórico. Não tem nem 200 anos. Porém, em termos de Fortaleza, é um dos mais antigos”, direciona o historiador Antônio Luiz Macêdo.
No século XIX, mesmo com a expressão econômica da cidade diminuta, começavam a proliferar as edificações de alvenaria, mais passíveis de preservação. Construções mais modestas e abundantes, de madeira trançada, não tiveram como resistir ao tempo.
A partir de novembro de 1973, o casarão foi palco das decisões políticas dos prefeitos de Fortaleza, mas foi deixado de lado em 1991, no primeiro mandato do então prefeito Juraci Magalhães. O resultado foi o total esquecimento da manutenção do equipamento durante esse período, ocupado por algumas secretarias municipais. Em 2005, entretanto, já na gestão da prefeita Luizianne Lins, o prédio foi tombado, o que, entretanto, não significou uma restauração imediata. Somente três anos depois, o projeto de dar nova vida ao edifício lança os primeiros pilares.
O que nem todo mundo sabe é que o Paço Municipal não preservou sua fachada original. Ao logo dos anos, e dos diferentes usos que foram dados à edificação, ele foi sendo modificado. Segundo Ivone Cordeiro, coordenadora de Patrimônio Histórico Cultural da Secretaria de Cultura de Fortaleza (SecultFor), ele é estruturalmente original, mas as diversas intervenções foram agregando elementos de outras concepções. “Não é um prédio inteiramente original, mas sempre manteve a mesma configuração estética e arquitetônica, mesmo agregada a outros detalhes”.
O ano era de 1866. O mês, abril. Data da venda, à Fazenda Nacional, da chácara por 60 mil réis. O casarão foi comprado para se transformar na moradia episcopal. A residência dos bispos se transferia do cruzamento das ruas Barão do Rio Branco e Guilherme Rocha para o casarão recém-adquirido, sob os comandos do primeiro bispo do Ceará, dom Luiz Antônio dos Santos.
O documento está guardado no Seminário da Prainha, aos cuidados do auxiliar administrativo Antônio Cordeiro Alves, 62 anos. Hoje funcionário da arquidiocese, seu Cordeiro, como é conhecido, é orgulhoso de preservar o material documental do Seminário. “Eu era meninote, tinha 16, 17 anos, de 1962 a 1971. Eu era dos Oblatas, que eram uns rapazes para ajudar na pastoral, os padres nas paróquias, mas não cheguei a me formar”, recorda.
Das paredes do casarão, entre uma atividade e outra, Cordeiro ouvia histórias dos bispos anteriores. A casa, depois de dom Luiz, passou aos cuidados de dom Joaquim (bispado de 1884 a 1912), que foi responsável por manter, junto à Igreja, a posse do prédio mesmo depois da Proclamação da República e da Primeira Constituição Republicana, quando a mesma Igreja perdeu a relação com o Estado.
A venda do casarão para a Prefeitura foi feita por dom José Delgado. “Aquilo não foi aceito por ninguém, nem pelo o clero”, aponta. Para conseguir vender o casarão, dom Delgado recorreu ao Vaticano, por falta de autorização local. Conseguido o apoio, passou a edificação, com área de mais de dois mil m², a Vicente Fialho por Cr$ 3.094.5000,00.
Dom Delgado alegou “a pobreza da arquidiocese, que não suportava o ônus da sustentação do patrimônio, aos ecos do Concílio Vaticano II, que propagava pelos quadrantes do mundo, levando aos bispos a despojar-se do poder e riqueza, a presença constante de comensais no Palácio, que obrigava as religiosas a redobrados trabalhos”, escreveu, no O POVO, em março de 1979. A justificativa era uma resposta ao artigo “Devolva-se o quanto antes à arquidiocese o histórico Palácio do Bispo!”, assinado por Daniel Carneiro Job, publicado em fevereiro, também no O POVO, no qual acusava o bispo de vender o casarão “a preço de bolo de milho em fim de festa”.

                      Praça do Ferreira
Até meados do século XIX, a Praça do Ferreira era só um areal com um cacimbão no centro, algumas mangabeiras e pés de castanhola. Pelas beiras, marcos de pedra para amarrar jumentos dos cargueiros ambulantes que vinham do interior. Nesse tempo, a praça era chamada de “Feira Nova” por abrigar uma feira movimentada.
Os rapazes ficavam em frente ao Cine São Luiz, aguardando as estudantes do Colégio Normal saírem das aulas. Por volta das 16 horas, as garotas normalistas, de saia rodada abaixo do joelho, costumavam passar pela Praça do Ferreira. Coincidência ou não, um vento teimoso lhes levantava as saias todos os dias nesse horário. “E era a alegria dos rapazes”, conta o então estudante e hoje aposentado João Batista de Almeida, que, na época, devia ter 17 ou 18 anos.
Assim como os causos do seu João Batista e das normalistas, pela Praça do Ferreira, a história da Cidade e dos próprios fortalezenses foi sendo desenhada. Naquele recanto, antes de 1920, existiam quatro quiosques, um em cada margem. Eles abrigavam cafés e restaurantes. O Café Elegante ficava na esquina das ruas Pedro Borges e Floriano Peixoto; o Restaurante Iracema, na rua Pedro Borges com Major Facundo; o Café do Comércio, na esquina entre as ruas Major Facundo e Guilherme Rocha; e o Café Java, na esquina das ruas Guilherme Rocha com Floriano Peixoto.
Em 1920, na gestão do prefeito Godofredo Maciel, a praça foi reformada e os quiosques, retirados. Era justamente no Café Java que se reuniam os participantes da Padaria Espiritual.

Padaria Espiritual
Num dos bancos do local conhecido como coração de Fortaleza, seu Antônio Campelo acompanhou as mudanças do Centro. Morador do bairro Jardim América, o aposentado vai, de segunda a sábado, a partir das 8 horas, ocupar um dos assentos da Praça do Ferreira. Esse percurso ele já faz há mais de 20 anos. Período suficiente para ver as mudanças daquela região da Capital.

“O que eu sei é que aqui na Praça do Ferreira tinha umas reuniões de pessoas que, hoje, são nomes de ruas e avenidas de Fortaleza”, ensina o aposentado. E ele tem razão. No fim do século 19, entre 1892 e 1898, Antônio Sales, Adolfo Caminha, Lívio Barreto, Lopes Filho, Raimundo Teófilo de Moura e muitos outros fundaram a Padaria Espiritual, uma das escolas literárias mais importantes da história do Ceará. De versos e poesias surgia “O Pão”, como chamavam o jornal, e os escritores, intitulavam-se “padeiros”. Todos os sócios, ou melhor, todos os “padeiros” assinavam seus textos com pseudônimos, assim Antônio Sales era Moacir Jurema, Adolfo Caminha era Félix Guanabarino, Lívio Barreto era Lucas Bizarro e, ao longo de toda a sua jornada, foram 34 autores, cada um com um nome específico.
O Pão era “assado”, ou seja, impresso semanalmente. Boa parte das reuniões do grupo acontecia no Café Java, ali mesmo, na Praça do Ferreira. A Padaria Espiritual contava com um divertido e criativo programa de regras, formado por 48 artigos que expressavam o pensamento e objetivos.
Irônicos e irreverentes, os participantes possuíam em seus títulos a nomenclatura hierárquica das padarias reais: o padeiro-mor (presidente), os forneiros (secretários), o gaveta (tesoureiro), os padeiros (sócios) e o forno (sede oficial da Padaria). Também traziam no peito o lema: “alimentar com pão e espírito todos os sócios e a população em geral”.
O objetivo primordial do grupo era criticar a sociedade e as instituições. Os padeiros vinham, em sua maioria, das camadas média e baixa da população e se mostravam descontentes com a classe burguesa, dentre outras coisas, pela valorização da cultura europeia.
Em um dos itens de seu programa de instalação, os padeiros declararam seu desprezo pelos estrangeirismos presentes nas obras literárias brasileiras. O forte caráter nacionalista também se reflete na proibição do uso de termos referentes à fauna e à flora estrangeiras na literatura brasileira. Essa característica repercutiu no fato de muitos historiadores e críticos literários enxergarem na Padaria Espiritual uma espécie de prenúncio do Modernismo, mesmo estando vinculadas aos fins dos oitocentos, que estão atrelados às escolas realista e simbolista, que faz surgir os olhares do nacionalismo crítico como uma de suas principais preocupações. A semana de Arte Moderna de 1922, considerada marco inicial do Modernismo no Brasil, só aconteceria quase trinta anos mais tarde.
O PROFESSOR EXPLICA

O militar Pero Coelho de Sousa, quando chega à capitania do Siará Grande, funda o forte de São Tiago, na Barra do Ceará, que para muitos foi construído onde era o antigo Clube de Regatas da Barra do Ceará, hoje o Cuca Che Guevara. Martin Soares Moreno fundou o forte de São Sebastião, que não existe mais.

A formação da Jacarecanga aconteceu no século XIX, com a fundação do Liceu, principal colégio público do Estado, e também com a chegada dos senhores ricos plantadores e negociadores de algodão, que achavam o bairro estratégico pela proximidade com o Centro, a estação e o litoral, para exportar suas mercadorias.

A colonização do Ceará foi motivada por estar sob jurisdição do Maranhão, entre 1621 e 1656, e de Pernambuco, de 1656 a 1799.

São muitos os prédios antigos de Fortaleza. Pode-se destacar: Seminário da Prainha, Santa Casa de Misericórdia e Cadeia Pública (hoje Emcetur).

O primeiro prefeito da cidade a governar nessa nova sede, em 1973, foi o tauaense Vicente Fialho, hoje tradicional político brasileiro.

A origem do atual nome da praça vem do famoso boticário Antônio Rodrigues Ferreira, que mantinha uma botica na rua das Palmas, hoje, Major Facundo. Esse comércio virou uma referência de encontros célebres da localidade.

Muitas referências são feitas à Padaria Espiritual como uma agremiação levemente anarquista, por causa de suas inovações, combates ao tradicionalismo. Antônio Sales dizia que seus integrantes eram “proletários intelectuais”.

Comentários do Professor de história, André Rosa. 

    Fonte: Anuário de Fortaleza 2012-2013. O POVO Agosto/2012.

Conhecendo Fortaleza

A religiosidade e o comércio como marcas de um povo

Catedral Metropolitana de Fortaleza
Ao contrário do que se imagina, a Catedral Metropolitana de Fortaleza não foi construída da maneira como está hoje. Foi feita em estilo gótico romano ou gótico moderado e inaugurada em 1978, depois de 40 anos em construção. Ela ocupa grande parte da Praça Pedro II, com capacidade para cinco mil pessoas. O templo destaca-se pela imponência arquitetônica e a beleza dos vitrais.
Antes da Catedral, o local era ocupado pela Antiga Sé, construída em 1854 e demolida em 1938, por problemas estruturais. Outra instituição que merece destaque na religiosidade da cidade é o Seminário da Prainha. Fundado em 1864, ele impulsionou a influência da Igreja na região, tendo como graduado ilustre o padre Cícero Romão Batista.

Rota comercial

Artesanato cearense à venda na Feirinha da Beira Mar
Pela manhã, o Centro de Fortaleza é a principal rota de desenvolvimento do comércio do Estado, seja formal ou informal, de acordo com a Federação do Comércio do Estado do Ceará (Fecomércio). São mais de 300 mil pedestres que lotam o espaço diariamente.
Fortaleza nasceu como terra de comércio. Se a cultura do algodão floresceu no interior e fez de Aracati e Icó importantes cidades no século XIX, a cidade de Fortaleza se desenvolveu a partir da localização de praia à custa do comércio, a priori.
Fortaleza não era cidade rica. “Aracati teve muito mais opulência financeira. Ela (Fortaleza) só vai crescer mais tarde, com o Porto do Mucuripe. O pouco que foi constituído na segunda metade do século XIX sofreu muita destruição”, atesta o doutor em sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), Rosendo Amorim.
Dos pequenos comércios, que forneciam o básico para a sustentação, como a farinha, o milho, a carne seca até o desenvolvimento das grandes lojas e centros comerciais, o Ceará passou por grandes transformações.
Características gerais como relacionamento fácil e simpatia são quesitos que o professor José Borzacchiello atribui para a propensão do fortalezense ao comércio. “O trabalhador do Ceará tem uma tendência enorme e capacidade de transformar a dureza em sobrevivência. Exemplo disso é a palha transformada em produtos artesanais. Pelo sofrimento com a seca, por ser um povo errante que faz espécie de diásporas, o cearense é comparado ao povo judeu”, analisa.
Pela proximidade do mar da cidade com a Europa, o primeiro porto de Fortaleza, segundo Borzacchiello, passou a receber vários artigos para serem vendidos nas diversas casas comerciais. A principal delas foi a Casa Boris, criada em 1870. Com a industrialização dos anos 1940, de acordo com o professor, o comércio de artigos importados e também de artesanais não demorou muito para se tornar uma das principais atividades econômicas na cidade.
“E até hoje Fortaleza é uma cidade do comércio, de grande entreposto comercial. É um centro de distribuição para o sertão cearense, atingindo o Rio Grande do Norte, o Piauí e parte do Maranhão”. O Mercado Central e a Emcetur são lugares conhecidos em todo o País pela venda de artigos de artesanato e comidas típicas. Mas a cidade também tem, como fonte de economia, o comércio popular e grandes shoppings centers.
O diretor do Fecomércio, Maia Júnior, reafirma a vocação do Centro como área de Comércio. “O Centro é local prioritariamente de comércio, recolhe cerca de 5,6% de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) do Ceará. O negócio aqui é business, business, business”, aponta. São negócios que empregam cerca de 65 mil trabalhadores formais.

O PROFESSOR EXPLICA
Na história brasileira existem alguns surtos industriais. O primeiro foi a Era Mauá, de 1850. O segundo foi durante a Primeira Guerra Mundial, de 1914 a 1918. Para muitos, outro momento significativo foi no tempo do governo nacionalista de Vargas, entre 1930 a 1945.


Comentários do Professor de história, André Rosa. 
Fonte: Anuário de Fortaleza 2012-2013. O POVO Agosto/2012.

Conhecendo Fortaleza

A beleza da paisagem natural da cidade

Estátua de Iracema na Lagoa de Messejana
Não é apenas de areia e água salgada de que Fortaleza é feita. Os primeiros colonizadores logo devem ter descoberto o potencial de flora, fauna e hidrográfico. A lagoa de Messejana é símbolo de idílio romântico, lugar onde a personagem Iracema, do livro homônimo de José de Alencar, após se banhar nas águas da bica do Ipu, vinha secar os cabelos longos e negros como a asa da graúna. Uma estátua da índia está lá para lembrar o visitante do clássico literário. Tantas páginas ainda poderão render outras lagoas da cidade. A da Parangaba, mesmo espremida entre grandes avenidas e um frenético terminal de ônibus, se mantém bela. Aos domingos, arranjou-se uma feira às margens de uma parte de seus 36 hectares de área. Hoje, as lagoas da cidade estão protegidas por lei. É por isso que os preservados entornos das lagoas de Porangabuçu, Papicu, Maraponga, Opaia, Lagoa Precabura e Messejana fossem assimilados pela população como importantes áreas de lazer.

Fortaleza conta, ainda, com o Zoológico Sargento Prata, comandado pela Prefeitura. Começou da coleção particular do sargento que deu nome ao parque; em 1979 foi para o Horto Florestal e, em 1983, ganhou estrutura administrativa própria. Tem mais de 300 animais. O Parque Ecológico Adahil Barreto, arborizado e revitalizado, é apontado como espaço legítimo de lazer.
Embora as tentativas de agressão e a vigilância precisem ser permanentes, Fortaleza conseguiu preservar uma das maiores e mais importantes áreas verdes do Brasil. É o Parque do Cocó, que mantém uma bela trilha ecológica onde o fortalezense pode sentir e ver a dimensão, a força e a pujança de uma área de mangue.

Foz do rio Ceará
O local onde os primeiros europeus pisaram onde hoje é Fortaleza é um dos pontos mais bonitos da Capital. Segundo historiadores, as expedições dos espanhóis Vicente Pinzón e Diogo Lepe desembarcaram nas costas cearenses antes da viagem de Cabral ao Brasil,em abril de 1500. A primeira, num cabo identificado como o da Ponta Grossa, no Município de Icapuí, e a segunda, justamente na Barra do Ceará, um dos pontos mais belos de Fortaleza.
Às margens do local onde as águas doces do Rio Ceará, na Barra do Ceará, se encontra com o mar do oceano Atlântico foi onde, em 1603, foi construído o Forte de São Tiago, depois destruído. A beira do rio Piragi, depois batizado de Siará, a esquadra de Pero Coelho teve que enfrentar ainda a reação dos índios da região.
Hoje, a ponte do rio Ceará é um componente do local de onde vemos o por do sol de forma privilegiada. A ponte faz a ligação entre Fortaleza e a cidade de Caucaia. São várias as barracas de praia ao redor da foz, cuja mais famosa é o Restaurante Albertus, de propriedade do seu Francisco Alberto Lopes, que oferece comida regional. No rio Ceará é possível agendar passeios de barco quem levam até a área de mangue.
Do rio Ceará é possível seguir para o lado leste da cidade em direção à Ponte dos Ingleses. De lá, é possível avistar boa parte da orla da avenida Beira Mar.
Na ida à Praia do Futuro pela avenida Padre Antônio Tomás é possível observar algumas subidas na pista logo após o bairro Papicu. São morros em que o asfalto das pistas e os tijolos das casas foram construídos. Esse trecho é o Dunas, um bairro de alto padrão, rodeado de casas de luxo, logo antes da Praia do Futuro.
Desse lugar, mais alto que a maioria do terreno plano da cidade, de um lado a vista aponta para os bairros conhecidos como grande Aldeota. Do outro, o vento que o mar sopra é o mesmo que, há cerca de seis mil anos, trouxeram as areias que hoje formam os morros. O bairro tem pouquíssimos comércios e praças.
O PROFESSOR EXPLICA
A Ponte dos Ingleses – conhecida como Ponte Metálica – começou a ser construída durante o governo de Epitácio Pessoa (1919 – 1922). A estrutura foi idealizada pelo engenheiro José Barroso Maia (Mainha) à serviço da empresa inglesa Norton Griffths. Mas logo no outro governo, Artur Bernardes (1922 – 1926), as obras foram interrompidas por causa da suspensão dos serviços federais no Ceará. Com a construção do atual Cais do Porto a ponte ficou relegada ao esquecimento.

Comentários do Professor de história, André Rosa. 
Fonte: Anuário de Fortaleza 2012-2013. O POVO Agosto/2012.

Conhecendo Fortaleza

A evolução dos sistemas de comunicação  em Fortaleza 

Estúdios da TV O POVO

Demorou até que as folhas partidárias, típicas de uma época que começou ainda no império, se convertessem em periódicos realmente jornalísticos. Ao longo do século XIX, o liberal Cearense (1846-1891) e os conservadores Pedro II (1840-1889) e Constituição (1863-1889) se digladiavam na seara política. Esses jornais eram “paladinos da ideia de que, através da imprensa, é possível civilizar a política e a sociedade cearense, independente da opção partidária”, explica Ana Carla Fernandes no trabalho A Imprensa em Pauta.
Porque eram apaixonados politicamente e engajados na tentativa de alterar o curso dos acontecimentos históricos, esses primeiros jornais se tornaram bastante lidos. Não havia recanto da Província, habitando lá um conservador ou liberal, onde não chegassem tais folhas. O Cearense e Pedro II, inclusive, fazem parte da paisagem da capital no romance A Normalista, de Adolfo Caminha. Mais que isso, são expostos como fofoqueiros do caso, publicado como tórrido, entre os personagens Zuza e Maria do Carmo. Os periódicos divertiam, informavam, alcovitavam.
O historiador Geraldo Nobre, em Introdução à História do Jornalismo Cearense, o primeiro dos sete volumes sobre o assunto, menciona que o Correio do Ceará, só a partir de 1915, vai enterrar a fase dos jornais que preencheram o século XIX com suas causas políticas. O Correio passa a se dedicar principalmente ao noticiário – e também a uma combinação dele com demandas publicitárias. Lançado como órgão ligado à Diocese de Fortaleza, logo a Primeira Guerra Mundial lhe dá condições de independência. O povo queria saber o que acontecia do outro lado do Atlântico.
As folhas noticiosas começavam a reinar. Gazeta de Notícias, Tribuna do Ceará, Diário do Povo – fora uma penca de outros – nasceram e pereceram no século XX. Mas um dos periódicos surgidos nessa época permaneceu. Em 1928, O POVO circula na cidade para ser um grito por ideias de “justiça e liberdade”. Os primeiros anos do diário acompanharam Fortaleza e seu crescimento vertiginoso.
A organização do O POVO “como empresa assegurou-lhe, a partir de 1950, aproximadamente, um lugar importante na renovação técnica, sobretudo de equipamentos, do jornalismo praticado no norte do Brasil”, escreve Nobre. O jornal sobreviveria à avalanche dos Diários Associados – mas também ao fenômeno radiofônico que, muitos previam, vitimaria o papel. Sobreviveu também ao advento da televisão.
O Grupo Edson Queiroz, que atua na agroindústria, nos setores de eletrodomésticos, bebidas e tintas e na distribuição de gás, se dedicou também à comunicação impressa ao fundar o Diário do Nordeste, no início da década de 80. Hoje trata-se de um sistema de comunicação, contando com rádio, televisão, jornais impresso e online.
Junto com o grupo de Comunicação O POVO, com suas rádios AM e FMs, a jovem TV O POVO, são esses os dois maiores conglomerados de mídia que atuam no estado.
Cite-se ainda a Fundação Demócrito Rocha (editora e ensino à distância), ligada ao Grupo O POVO de Comunicação e o Instituto Albanisa Sarasate, do mesmo grupo.

Rádio e TV
A paisagem musical de Fortaleza se modifica depois do rádio. Saem os sinos anunciando morte e festa, entra o chiado aconchegante dos locutores da Ceará Rádio Club em 1934. A rádio “dos irmãos Dummar”, que por conta da aparelhagem ainda deficiente engrossava ou afinava a voz dos locutores, foi pioneiro em transmissões regulares. Com a Segunda Guerra Mundial, as atenções estariam voltadas para o rádio, meio mais rápido de veiculação de notícias. Como explica Emy Maia Neto, “os mais pobres que haviam mandado seus filhos e maridos para a guerra, viviam sob tensão” e aquele aparelhinho, cada dia mais popular, era a chance de descobrir o que se passava na Europa.

O rádio governou a emoção dos ouvintes, com seus programas de auditório, novelas, festivais de música e noticiários, até 1960 – quando se inaugura a TV em Fortaleza. A própria Ceará Rádio Club, que passaria ao controle dos Diários Associados, fez festas para a vinda do Canal 2. Nos anos anteriores, as pessoas eram conclamadas na programação radiofônica a comprar ações da emissora televisiva para que ela pudesse chegar pelas bandas de cá. E teve adesão intensa.
Mas, após a queda do império de comunicação do paraibano Assis Chateaubriand, outro modelo de negócios viria substituí-lo: a Rede Globo e sua aposta no esquema centralizado de retransmissoras. Fortaleza deixa, então, de produzir boa parte de seu conteúdo, e as televisões locais passam a difundir e formatar uma ideia de país forjada nos estúdios cariocas e paulistas. Porém, a programação local hoje mantém sua força e interesse do público local.
Hoje Fortaleza tem uma grande e sofisticada rede de comunicação que engloba jornais, emissoras de rádio, emissoras de TV, TVs por assinatura e portais de internet que têm no jornalismo a base de seus conteúdos. Ressalte-se ainda uma moderna rede de telecomunicações via celular e telefonia fixa.
Fonte: Anuário de Fortaleza 2012-2013. O POVO Agosto/2012.

Conhecendo Fortaleza

O sistema de transporte urbano e a garantia de ir e vir na cidade

Às 7 da manhã, os passageiros formam filas nos terminais de ônibus. No mesmo horário, vindos de Caucaia, usuários do sistema ferroviário da capital cearense descem na Estação Engenheiro João Felipe, no centro da capital cearense. Na avenida 13 de maio, motoristas rumam ao trabalho. Ciclistas cruzam a avenida Washington Soares.
A Fortaleza não é mais aquela visitada pelo britânico Henry Koster, que esteve na colônia do Siará Grande em 1810 e reclamou da “dificuldade de transportes terrestres, particularmente nessa região, e falta de um porto. As terríveis secas afastam algumas ousadas esperanças no desenvolvimento de sua prosperidade”. Contra as evidências, contra o areal que parecia não acabar nunca, contra o sol torrencial, Fortaleza cresceu. Principalmente a partir da segunda metade do século XIX, por conta de um ditame econômico.
O algodão produzido no interior, beneficiado com a crise que abalara o mercado estadunidense do produto, passava pela capital para abastecer em grande medida a indústria inglesa e fomentar o capitalismo europeu. Os ingleses suplantaram as empresas portuguesas na área e os empresários locais se aproveitaram sabiamente da conjuntura para fazer negócios com os anglo-saxões. Foi um período de esplendor financeiro, artístico, urbanístico, científico para Fortaleza.
Mas, por muito tempo, o porto foi de trapiches que se seguravam de pé à revelia do vento. Entretanto, custa até 1906 a construção da Ponte Metálica, erguida em concreto: um escoadouro de mercadorias menos improvisado para uma cidade que tirava sua fortuna da exportação por via marítima.
A Ponte Metálica, na avenida Tamandaré, seria o porto oficial da cidade até a década de 1950 quando a função foi transferida para o Mucuripe, lugar cuja profundidade permitia que se atracassem barcos de maior porte.
Em julho de 1873, dormentes e trilhos, com a Via Férrea de Baturité, passam a ligar o interior à costa – primeiro Baturité, depois Sobral. A importância não se encerrava no simples “advento da máquina”. Era uma mudança de hábitos. O trem compartilhava o jornal, o boato; servia de relógio e de esperança; despertava a necessidade de novos serviços e edificações. “O marco é a inauguração da Estação Central, atual João Felipe [em Fortaleza]”, afirma Nilton Melo Almeida no trabalho “Os ferroviários na cartografia de Fortaleza”.
“Vêm depois, ao sul, a estação da Parangaba, antiga Arronches, inaugurada também em 1873, e, em seguida, as de Mondubim e Maracanaú (1875), Marítima (1878), Pajuçara (1918), Otávio Bonfim (1922) e Couto Fernandes (1940). Ao norte, Antônio Bezerra, Caucaia (1917) e Álvaro Weyne (1926)” completam o quadro.
“A construção da Estrada de Ferro de Baturité e a conexão do trem com o porto marcam o período da economia calcada no cultivo do algodão num contexto muito favorável ao Ceará e a Fortaleza. A cidade abre-se ao mundo e amplia sua relação com o sertão”, explica o professor do departamento de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), José Borzacchiello da Silva. Para que os mascates fortalezenses ganhassem dinheiro, o trem teve de se expandir e se conjugar com o porto. Mas acabou ajudando a modernizar a urbe.

Estação Engenheiro João Felipe
Os bondes, os ônibus
Só entrava nos bondes quem estivesse decente. E decente, no vocabulário do século XIX, queria dizer paletó, colarinho, sapato. O aviso servia tanto para o transporte público lançado em 1880, por tração animal, quanto para o elétrico de 1913. Os primeiros bondes, 25 ao todo, com 25 lugares cada, andavam 7500 metros, de meia em meia hora e enquanto houvesse passageiros nas avenidas centrais.
“Os bondes significaram novo e importante espaço de sociabilidade; em livros, jornais e revistas não é raro encontrar referências a conversas e acontecimentos advindos de seus bancos. Foram, assim como as ferrovias, objetivados como signo de modernidade; não é por acaso que pouco tempo depois veio surgir um pasquim intitulado O Bond, contemporâneo de outros ditos jocosos”, explica o professor do departamento de História da UFC, Sebastião Ponte, no volume “Fortaleza Belle Époque”.
Os bondes eletrificados exigiam certas características que a cidade ainda se recusava a ter. As calçadas – e o calçamento – se estenderam ainda mais sobre o areal em brasa; as praças, sem bordas ou limites, foram redimensionadas; e o pedestre se adaptava a um trânsito ainda insipiente.
Segundo Mozart Soriano Aderaldo, no livro “História Abreviada de Fortaleza”, “foi o automóvel que obrigou os administradores a melhorar a pavimentação, imaginando-se a solução provisória do trilho de pedra para ônibus, seguida do piso de concreto e, finalmente, de asfalto”. O primeiro carro chega em 1909; a primeira linha de ônibus, em 1928.
Mais rápido e mais lucrativo, os ônibus aposentariam os bondes em 1947. A Prefeitura vende os trilhos de aço e os fios de cobre e dá fim a uma era. Começava a Fortaleza movida a petróleo. A população se multiplica vertiginosamente. Acompanhe: em 1863, 16 mil habitantes; em 1887, são 27 mil; em 1900, 50 mil; em 1930, ultrapassa os 100 mil; em 1950, 270 mil; em 1960, 500 mil; na década de 1970, bate a casa de 1 milhão.
“O quadrilátero formado pelas avenidas Duque de Caxias, Dom Manuel e Imperador, data de 1875, quando Adolpho Herbster desenhou a Planta Exacta de Fortaleza. Durante muito tempo foram as vias que delimitavam o centro da cidade. As ligações com o sertão foram determinantes neste desenho”, esclarece Borzacchiello. Mas a expansão veloz a oeste e leste desafiava os urbanistas.

Metrofor: começou operar em 2012
Buzinas ao alto
A cidade planejada do final do século XIX perde o prumo já nos anos 1930 e deixa aparecer as primeiras favelas, compostas por migrantes do interior, que vinham fugidos da seca para uma capital abundante em recursos. E o ponto de virada contra o combalido transporte urbano de Fortaleza foi “o processo de industrialização do país e, especialmente, o do Ceará, a partir da década de 1960”, afirma o professor. Vai-se formando aí uma classe média disposta e apta a comprar de tudo – inclusive carros.
“O forte surto de crescimento desse período permitiu a expansão da malha viária da cidade que passou por um enorme esgarçamento com a construção de longínquos conjuntos habitacionais e loteamentos. A dificuldade dos meios de transportes coletivos de atender às demandas cria um enorme desejo pelo automóvel”, pontua.
Atualmente, segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE), em abril de 2012, circulavam 797.053 veículos apenas na capital e pouco mais de 2 milhões no estado inteiro.
Nesse cenário, o setor público se esforça para suportar a demanda. Uma das ações foi a implantação do Sistema Integrado de Transporte (SIT), com terminais de ônibus integrados entre si e valor único da passagem. Hoje, há seis em funcionamento – Siqueira, Parangaba, Lagoa, Antônio Bezerra, Papicu, Messejana.
Também foi colocado em prática a reformulação do SIT. O Transfor, da Prefeitura Municipal, trouxe melhoria de vias, faixas semi-exclusivas, ampliação dos terminais, integração temporal e, junto com o metrô de Fortaleza, se tornaram alternativas à mobilidade na Capital.


O PROFESSOR EXPLICA
A crise do algodão, que sofreu o mercado estadunidense, foi derivada da guerra civil interna, a Guerra de Secessão (1861-1865). Com a luta, os campos de algodão foram prejudicados e o mercado europeu buscou uma nova região para a produção. No Brasil, as principais localidades para a cultura foram Bahia, Maranhão e Ceará.
Antes de existir os , importantes terminais da cidade,o “ponto final” das linhas de coletivos concentrava-se na praça José de Alencar,que foi inteiramente modificada quando todas as linhas foram retiradas.
O arquiteto Adolpho Herbster tem também a sua rua.O bairro que tracionou, que é o Benfica tem uma rua com seu nome,perpendicular a avenida da Universidade,próxima a reitoria da UFC.

Comentários do Professor de história, André Rosa. 
Fonte: Anuário de Fortaleza 2012-2013. O POVO Agosto/2012.

Conhecendo Fortaleza

Os serviços urbanos e o bem viver

Avenida Monsenhor Tabosa importante via da cidade
Apenas no início dos anos de 1920 é que começou, em Fortaleza, a instalação dos primeiros encanamentos de água. A cidade daquela década era pobre, mas caminhava a passos rápidos rumo à melhoria das condições de vida, pelo menos para a classe mais abastada. Em suas ruas em formato xadrez, a iluminação era, também nessa década, com gás carbônico, mas as casas já tinham energia elétrica. Desde 1913, o transporte na cidade era feito por bondes elétricos, que substituíram os bondes puxados a burros. O serviço era administrado por uma empresa canadense. Em 1926 começou a ser instalada a água encanada.
Os locais, inclusive, recebiam nomes de acordo com suas funções. A Praça do Encanamento, era o local em que caixas d’água foram construídas para levar abastecimento até o Benfica na metade do século XIX.
Em 1930, na administração de Álvaro Weyne, a praça foi urbanizada no atual trecho e recebeu o nome de Praça da Bandeira, mas oficialmente só foi mudado em 1937, por decreto do então prefeito Raimundo de Alencar Araripe. Em 1959, na gestão do prefeito Cordeiro Neto, seu nome foi novamente mudado, passando a chamar-se Clóvis Beviláqua. O nome de Praça da Bandeira passou para a Praça do Colégio Militar. A construção da última caixa d’água na praça Clóvis Beviláqua foi na década de 1960.
Com o passar dos anos e o crescimento da cidade, serviços precisaram ser expandidos e novos foram criados. Para se ter uma ideia, segundo o censo de 1920, o número de pessoas que moravam na capital cearense era de 78 mil. Hoje, a Capital cresceu mais de 300 vezes e conta com cerca de 2,7 milhões de habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para atender a toda essa demanda populacional, os governos municipal e estadual precisaram se adequar. Serviços de saúde, como a criação de hospitais, expansão das redes de água e esgoto; surgimento de órgãos de fiscalização, como a Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania (AMC), organização das polícias civil e militar e criação da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
Fonte: Anuário de Fortaleza 2012-2013. O POVO Agosto/2012.

Conhecendo Fortaleza

O visual das artes plásticas: espaços e acervos

Grafite na fachada do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará

No apanhado que faz ao final de Artes plásticas no Ceará, o artista Nilo de Brito Firmeza, o Estrigas, condensa uma pá de pintores, escultores e eventos que são importantes para a formação das artes produzidas ao longo do século XX em nossas terras. Pois a lista parece nos dizer, ainda que não explicitamente, uma coisa simples, mas lapidar: não é possível compreender a história das artes em Fortaleza se não se passeia pelos salões de exposição do Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc).
A ideia do Mauc veio do primeiro reitor da instituição, Antonio Martins Filho. Em “História Abreviada da UFC”, ele reproduz um itinerário de viagem. Em 1949, visitou o Museo del Prado, em Madrid, que impressiona pelo tamanho. Em 1952, viu de perto os salões de Florença, Milão, Gênova. “Já no exercício da Reitoria da Universidade (Federal) do Ceará, passei a considerar a importância dos museus e sua alta significação na sedimentação da cultura de um povo”, considera.
Quando Martins Filho iniciou o movimento pró-fundação do equipamento no Benfica, o pintor maranhense Floriano Teixeira sairia da função de desenhista na Divisão de Obras e viria trabalhar em seu gabinete, “na condição de assessor para assuntos de arte”. Teixeira ajudou a coletar material para um acervo robusto. A princípio, foi uma amostra de arte popular nordestina – o que se converteria num dos maiores patrimônios de xilogravuras do país –, ex-votos e peças de arte sacra. Depois, artistas plásticos do Ceará. E do mundo.
“Nada melhor do que uma exposição de [Antonio] Bandeira para mostrar que o Museu de Arte da Universidade do Ceará nasceu vivo e promete endiabrar-se”, festejava o escritor Fran Martins no catálogo distribuído em julho de 1961, na festa de abertura. Antonio Bandeira, um dos grandes da pintura no Brasil, está guardado no acervo até hoje. A ele, outros se acrescentariam. Há Sérvulo Esmeraldo, Aldemir Martins, Chico da Silva. Tem também Albrecht Dürer, Jean-Pierre Chabloz, várias gravuras japonesas.
Hoje, o Mauc mira a Reitoria da Universidade. Faz parte do corredor cultural do Benfica, junto com outros equipamentos da UFC, como o Teatro e a Rádio Universitária, a cinematográfica Casa Amarela Eusélio Oliveira e as Casas de Cultura Estrangeira. Mas é apenas uma parte do percurso. Seguindo na avenida, o Centro ainda consegue nos contar tantas histórias sobre a cultura no Ceará.
A memória
O Palácio Senador Alencar, antiga Assembleia Provincial, nasceu num momento da história em que, devido ao centenário da independência, comemorado em 1922, voltava-se a pensar muito em fixar uma identidade para o País.
“O Museu teve uma trajetória marcada pela sua utilização como instrumento formador de identidade, onde se buscava construir uma memória através de operações ideológicas que produzissem significados e representações sobre a História do Ceará”, escreve Ana Amélia Oliveira no trabalho “Juntar, separar, mostrar”, em que estuda o equipamento desde a fundação até 1976. Segundo Oliveira, a história por que se interessava Eusébio de Sousa, o primeiro diretor, era aquela contada pelos vitoriosos e pelas elites.
Mas essa ideia, como explica a atual diretora da instituição, a museóloga Cristina Holanda, foi se modificando com o tempo. A noção de uma identidade unívoca, homogênea, coesa, fazendo da cena brasileira algo sem vida e sem conflito, envelheceu. Após os anos 1980, a pluralidade lhe tomou o lugar no pódium. “O Museu veio acompanhando esse percurso de mudança da própria sociedade com relação ao que considera identidade”, afirma Holanda.
Os objetos de que Eusébio de Sousa lançou mão para tentar nos definir, como as telas do pintor oficial Jota Carvalho, estão contrabalanceadas, atualmente, com peças documentando a vida dos anônimos. Dois mil artigos do acervo são, por exemplo, artefatos arqueológicos de período pré-cabralino. Há produtos também provenientes de grupos negros, como instrumentos de tortura usados para submeter escravos africanos na época do Império no século XIX. Ao todo, são 15 mil itens.
“Muitas peças ainda estão vinculadas à perspectiva de quando foi fundado, exaltando os grandes nomes da política, da Igreja, do Exército. Mas, mesmo ainda tendo esse acervo oficial, com o trabalho educativo de mediação, com o apoio de legenda, tentamos fazer o acervo dar conta de memórias plurais”, diz Holanda.
E, em meio a generais e anônimos, um ícone polêmico: o bode Ioiô, de vida boêmia e barbicha descuidada, não garantiu morada no Museu senão sob fervorosa controvérsia. “O que fazia um animal entre os homens de bem?”, perguntavam-se os sujeitos das décadas de 1930 e 1940, segundo Holanda. Mas é exatamente o bode que esteve desde sempre exposto, nunca foi para a reserva técnica e tem sido matéria de livros, cordéis e filmes.
Raimundo de Menezes, no livro “Coisas que o Tempo Levou – Crônicas Históricas da Fortaleza Antiga”, assegura sobre Ioiô que “ninguém o molestava, nem sequer os fiscais municipais, quando de seus passeios diários pelas ruas de Fortaleza”. Veio do interior em 1915 e foi vendido pelo dono à firma Rossbach Brazil Company, que o deixa se fixar ali pela Praia de Iracema, levando uma vida de perambulação. E certamente de prazeres.

Casa Amarela Eusélio de Oliveira
Os Centros de Cultura
Nada melhor para o Centro Cultural Banco do Nordeste (CCBNB) do que ficar na rua Floriano Peixoto, num dos bairros mais movimentados da cidade. É que o objetivo dos espaços de exposição, da biblioteca, do teatro e dos auditórios é formar plateia. Em outras palavras, raptar um pouco as pessoas do ruge-ruge de compras e trabalho – nem que seja o tempo de uma peça ou, quem sabe, o intervalo de visita a uma mostra.
Diariamente, 1200 pessoas esquecem as preocupações para frequentar o lugar. Uma pesquisa, feita pelo próprio Banco, revelou que a maioria vai para a biblioteca. Mas outros tantos veem as exposições temporárias. “Nosso foco principal é de disseminação da arte nordestina, mas trazemos artistas também de outras partes do Brasil. A gente tem tentado intensificar nossas ações para atrair sempre novos públicos”, diz Téssi Letícia Barbosa, a gerente do CCBNB de Fortaleza
Foram 168 mostras desde 2003, quando começaram a fazer exposições temporárias. Entre elas, mostras do fortalezense Leonilson, do carioca Helio Oiticica e do paraibano José Rufino. No acervo do Banco, há cerca de 800 obras, dentre as quais, uma coleção de gravuras nordestinas e outra de artistas que produziram nos anos 2000. Ainda há os painéis de Caribé e de Zé Tarcísio, que se encontram nas enormes paredes do Centro.
Não muito longe dali, outro centro cultural se prepara para o sábado à noite. E enquanto os bares dos arredores se apinham de gente, os cinemas vendem pipocas para as sessões, o teatro acomoda o público para o espetáculo. No Museu de Arte Contemporânea (MAC) do Centro Dragão do Mar, está em cartaz alguma exposição que, no dizer do artista plástico e diretor do lugar José Guedes, “põe o Ceará em sintonia com a produção mundial”.
De acordo com Guedes, diretor do Museu por dois períodos (1998-2002 e 2007 até hoje), o espaço tem plena capacidade e experiência de receber grandes trabalhos. E já o fez. Como, em 2000, na exposição do francês Auguste Rodin, em que havia 27 obras do escultor; ou ainda na mostra “De Picasso a Gary Hill”, de 2010, com trabalhos do pintor espanhol, mas também dos mestres Henri Matisse e Marc Chagall. “É fácil convidar artistas para expor no MAC, porque o prestígio do museu hoje é internacional”, comemora.
Para Guedes, o melhor é manter o artista cearense em diálogo com a arte dos outros países da América Latina. “Você sente a facilidade dos artistas ao querer participar. Isso é por conta da nossa imagem positiva. Sobretudo na América Latina, porque lançamos artistas que fizeram primeiras individuais aqui e depois ganharam o mundo”, conclui. Mais de 1200 obras estão no acervo.

O PROFESSOR EXPLICA
Outra obra de arte que lembra muito bem a nossa cultura e nossa cidade é a estátua de Iracema, no Mucuripe. A obra é composta pela índia Iracema, Martim Soares Moreno e seu filho Moacir. Criada pelo artista plástico pernambucano Corbiniano Lins, a estátua está na praia do Mucuripe, lugar onde a índia esperava o retorno de Martins Soares Moreno, segundo a lenda. A estátua foi inaugurada em 1965.
O homem mais rico, do estado no início do século XX, o sobralense José Gentil Alves de Carvalho, para controlar suas negociações feitas na capital, transferiu-se para uma área que vai ser chamada futuramente de Gentilândia, contendo estruturas que hoje são a reitoria da UFC, as Casas de Cultura, Faculdade de Economia, chegando a terras que compõe o 23º Batalhão de Caçadores(23ºBC). Onde localiza-se o MAUC também já foi dos Gentis, mas durante muito tempo, cedido por eles, foi a primeira instalação do colégio Santa Cecília.

Comentários do Professor de história, André Rosa. 
Fonte: Anuário de Fortaleza 2012-2013. O POVO Agosto/2012.