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quarta-feira, 9 de março de 2011

Cachaça e yoga dão no mesmo.

Na Índia: 20 anos de muito exercício mental, jejum, abstinência, mantras, concentração, meditação… para total domínio do corpo, como mostra o grande YOGACHARIA IVENGAR.


No Brasil: 1 hora num boteco bebendo pinga, relaxamento ao ar livre, alimentação frugal (só tira-gosto) … como demonstrado pelo grande Mano Coquinho.



COMENTÁRIOS:

A comparação acima, encontrada em diversos sites, nada mais é que uma brincadeira do espírito gracejador brasileiro, claro. Sabemos, porém, que muitas ideias passadas assim é que criam aqueles preconceitos que nem compreendemos porque estão na nossa cabeça.

Brincadeiras à parte …

A ioga, no Brasil, faz tempo deixou de ser novidade. Em todas as médias e grandes cidades há um ou mais espaços e academias oferecendo sua prática. Por aqui, o termo pode ser aportuguesado para "ioga". Alguns se referem ao ioga como um termo masculino, designando "o caminho" ou "o conjunto de práticas". Outros se referem a ela como um termo feminino, relacionando-a com “a ciência” ou “a disciplina”. Quanto à pronúncia, não faz diferença dizer "iôga" ou "ióga" embora, para alguns, essa indistinção soe como heresia. Prefiro tratá-la como uma ciência, escrever "a ioga" e pronunciar o termo com som aberto, “ióga”. Que diferença faz? Escrever "ioga" ou "yoga"; dizer "o iôga" ou "a ióga" não produz qualquer interferência na sua prática. Se os resultados de uma ciência tão profunda estivessem condicionados a um termo, seria o caso de questionarmos sua eficiência.

Apesar do número crescente de praticantes, não há muita clareza sobre o significado da ioga, sendo ela confundida com religião, terapia ou ginástica. Mas o que popularmente é conhecido como ioga é, na verdade, apenas uma parte dela. A prática das posturas físicas (asanas) oferecidas nas academias faz parte da “hatha yoga”, um dos ramos da ioga integral, composta de oito etapas. A ioga que a maioria das pessoas busca nas academias abrange um conjunto de práticas capaz de proporcionar consciência corporal e, por conseguinte, saúde e equilíbrio mental.

Mas o que a consciência corporal tem a ver com uma ciência tão abrangente? Sabe-se que o fluxo de pensamentos produz efeitos sobre o corpo, pois o resultado de uma mente estressada e ansiosa é a tensão muscular, a respiração ofegante e o sistema cardiovascular alterado. O corpo é assim influenciado de forma direta pela mente, algo que todas as pessoas experimentam no seu dia-a-dia. E quanto à mente, sendo ela tão abstrata e intangível, como pode ser possível alcançá-la?

Os cientistas indianos de tempos antigos encontraram uma solução simples e genial. Se o caminho for invertido, trabalhando-se diretamente sobre sistemas do corpo que podem ser diretamente estimulados, tal como a respiração, os benefícios serão refletidos reversamente sobre o equilíbrio mental, com efeitos sobre diversos sistemas estimulados apenas de forma indireta, como o cardiovascular, o fluxo dos pensamentos, o estresse e a ansiedade.

Isso explica os rostos felizes e sorridentes dos milhares de praticantes que percebem numa única sessão os efeitos positivos das asanas (posturas físicas) e dos exercícios de consciência da respiração (pranayama). Uma mente equilibrada, além de um corpo relaxado, produz também um raciocínio brilhante e ajuda a enxergar com clareza e criatividade as soluções para os desafios do dia-a-dia.

As ciências médicas já reconhecem, em muitos estudos sérios, os benefícios da Ioga e da meditação para a saúde, como se vê no livro “A arte da meditação”, de Daniel Goleman, de Harvard. Após exercícios de pranayama (respiração) o sistema cardiovascular responde maravilhosamente, com efeitos sobre a estabilização dos batimentos cardíacos e da pressão arterial, como bem demonstrou Daniel Goleman, sem falar nos benefícios para a capacidade de discernimento e julgamento. A popular fórmula de respirar profundamente enquanto conta até dez para enfrentar uma situação nervosa, encontra-se justificada pela ciência da ioga.

O Dr. Carl Jung, conhecido psicólogo suíço, participante do Congresso Indiano de Ciências em 1937, escreveu: “[A ioga] oferece a possibilidade da experiência controlável e assim satisfaz a necessidade científica de ‘fatos’. Em virtude de sua amplitude, profundidade, de sua idade venerável, de sua doutrina e método que abrangem todos os aspectos da vida, promete possibilidades jamais sonhadas (...)

“Os múltiplos processos puramente corporais da Ioga compreendem também uma higiene fisiológica superior aos exercícios de ginástica e respiração comuns, pois não é apenas algo mecânico e científico, mas é também filosófico. Ao treinar as partes do corpo, unifica-os com a totalidade do espírito, como se torna bem claro, por exemplo, nos exercícios de Pranayama, onde o prana tanto é o alento quanto a dinâmica universal do cosmos (...)

“A Ioga combina o físico e o espiritual de maneira extraordinariamente completa. No Oriente, onde estas idéias e práticas se desenvolveram, e onde, durante milhares de anos, uma tradição ininterrupta criou as necessárias bases espirituais, a Ioga é, em minha opinião, o método apropriado e perfeito para fundir corpo e mente, de modo a formarem uma unidade inquestionável. Esta unidade cria uma disposição psicológica que possibilita intuições que transcendem a consciência.”

Ioga, portanto, vai além de posturas físicas e pranayama. Segundo Patânjali, o cientista espiritual que sistematizou o processo em oito etapas, ioga é "a cessação dos turbilhões da mente". O significado disso está para além de busca de saúde e bem-estar. O professor Hermógenes, um dos mais antigos especialistas no Brasil, dá uma noção da amplitude da ioga: "equanimidade na ação; o supremo segredo da vida; aquilo que gera felicidade; serenidade; e o que extingue a dor".

Esses poderes, vamos assim dizer, encontram-se na essência de todo ser humano, sendo a ioga um instrumento para reconectar ou religar essa natureza superior oculta. A palavra “ioga” tem como raiz o termo sânscrito “yuj”, que produziu “jungir” ou “unir”. O conceito de "união" do termo está relacionado à conexão com a essência, o sopro divino da vida presente no ser humano, tendo o mesmo significado de religião, "re-ligare", isto é, reconexão com a Essência ou Deus.

Ao acalmar a turbulência natural dos pensamentos e a inquietude do corpo por meio do processo científico da ioga, pode o ser humano conhecer uma realidade de indizível alegria e paz, além da percepção dos níveis mais profundos do Ser que é ele mesmo, sua própria essência. A Bíblia Sagrada reconhece a relação entre quietude e novos estados de entendimento: “Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus” (Salmo 46). Pela prática dos métodos da ioga, que não possuem qualquer vínculo com crenças emocionais ou fé cega, o praticante alcança a união com aquela Inteligência, Poder e Alegria, base e essência de si mesmo.

A ioga, portanto, tem muito a dizer aos que se interessam pela pesquisa espiritual profunda, oferecendo muito além da especulação intelectual e da discussão teológica: uma base de saber que pode ser confirmada ou refutada pela experiência, ganhando assim o status de ciência. Para Patânjali, a ciência da ioga é o núcleo central de todas as religiões, pois cumpre o propósito de unir a consciência individual à consciência do Universo de forma metodológica, com resultados conhecidos e precisos.

Para esse tipo de praticante que busca uma experiência de conexão com o Ser, não há um resultado específico para ser alcançado. Seu objetivo não é qualidade de vida, nem saúde, mas a transcendência da condição humana, meta que a Ioga é capaz de atender. O sistema inteiro de Patânjali abrange desde o disciplinamento moral até à contemplação mística da meditação, com possibilidade de reprodução das experiências descritas por santos e místicos de todas as religiões – uma estrada de deliciosos frutos colhidos na caminhada, dentre os quais a saúde física e mental. Um conjunto de técnicas para alcançar o Absoluto - a realização de um sonho para muitos espiritualistas e filósofos não dispostos a repetir os esforços de buscadores desprovidos de metodologia, bem sucedidos somente por meio de sacrifícios ingentes.

Paramahansa Yogananda, o fundador da ioga no Ocidente, apresentou a ioga nesse sentido espiritual mais profundo, de forma científica, não sectária, como uma ciência universal, capaz de abrigar a essência de todas as grandes religiões do mundo. Pela clareza de sua filosofia e pelo método de experiência oferecido, Yogananda tratou a ioga como "a ciência da religião", capaz de estabelecer uma relação de causa e efeito entre as práticas propostas aos buscadores e os resultados obtidos em termos de percepção da essência do ser humano, da natureza e de Deus – o tão sonhado método do conhecimento da Verdade, do Absoluto, uma meta perseguida tanto pela religião quanto pela filosofia. O correspondente espiritual da pedra filosofal, avidamente buscada pelos alquimistas antigos, é encontrada na ioga, pois esta tem a chave para conduzir o ser humano comum à percepção de si mesmo como um Ser divino.

Disse Yogananda: “O iogue conhece a arte científica de se desconectar conscientemente dos nervos sensoriais, para que nenhuma perturbação exterior, proveniente da visão, audição, tato, paladar ou olfato penetre no santuário interior de sua meditação impregnada de paz. Pelo conhecimento e prática das leis definidas e técnicas científicas de concentração, os iogues desligam os sentidos à vontade – indo para além do sono subconsciente e alcançando a bem-aventurada interiorização superconsciente (...)

O iogue, no êxtase da meditação profunda, desliga completamente a força vital e consciência do corpo físico, dirigindo-a à percepção superconsciente da natureza celestial invisível da alma como Beatitude. Esse estado superior traz a percepção da matéria como sendo ideias cristalizadas de Deus - do mesmo modo que, no sono, os sonhos são efêmeras criações de nosso pensamento. Quem sonha não sabe que seu pesadelo é irreal até que desperte. Assim também, é apenas despertando no Espírito – na unidade com Deus em samadhi – que o homem pode banir o sonho cósmico da tela de sua consciência individualizada”.

As estruturas econômicas e sociais criadas pelos ocidentais não colaboram para o despertar de ambições mais elevadas, priorizando a busca de satisfação e felicidade por vias mais fáceis, o esforço de acumular bens, a busca desenfreada pelo sucesso material, os prazeres dos sentidos, o álcool e o vinho, a fama e as aparências, considerando como inevitáveis as doenças e misérias humanas. Calcularam que é melhor deixar de fazer o esforço em direção a metas mais elevadas, trabalhar duro para pagar um plano de saúde, enfrentar as doenças “normais” de cada fase da vida e lamentar-se pela dureza imposta por Deus aos sofredores neste “vale de lágrimas”.

Não é possível obter os benefícios da Ioga sem encarar, inicialmente, certa perda por não participar do festim, aderindo a um processo que parece disciplinado e duro no começo, mas prazeroso e de extremo gozo, alegria e realização, mesmo no curto prazo. A idéia de ter que encarar “20 anos de muito exercício mental, jejum e abstinência” é um ponto de vista equivocado de quem está do lado de fora e que nunca se dispôs a participar de uma prazerosa sessão de ioga e meditação.

Reconhecer como prejudiciais à vida muitos dos vícios considerados até recentemente “deliciosos pecados”, o fumo, a gula, as drogas e a pinga do bebum, demonstra uma relevante tendência ao respeito à ciência, ao esforço dirigido de forma metodológica e à observação sistematizada entre causas e efeitos - portas abertas para compreender, assimilar e adotar a ioga como um caminho eficiente para a solução de muitos dos enormes e complexos desafios da humanidade.

O único ponto em comum entre a ioga e a cachaça é, certamente, a rapidez com que os resultados são alcançados pelos seus seguidores. As enormes diferenças entre as duas práticas podem ser imediatamente conhecidas pedindo aos personagens das figuras acima que se levantem de sua posição. Nos dias seguintes, além disso, o grande “Mano Coquinho” vai curtir a conhecida ressaca, inevitável efeito colateral da “prática alternativa”.

Para uma compreensão exata e profunda sobre Ioga, recomendo a leitura do livro Autobiografia de um Iogue, de Paramahansa Yogananda.

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